GRAMMY 2012: o que esperar

Embora eu concorde que seja realmente anacrônico uma premiação como o Grammy – da indústria para indústria – existir em pleno 2012, não consigo não me empolgar com essa noite todo santo fevereiro. Tal sua irmã cinematográfica, o Grammy é um prêmio tão político quanto musical. É sobre quem se comportou bem durante todo ano, quem conseguiu colocar seu produto à mostra e, sim, quem conseguiu vender sua arte naquele intervalo de 12 meses (a Academia considera o um período de outubro a setembro para as indicações). Mesmo quando há algumas boas surpresas, como a vitória do Arcade Fire em Álbum do Ano em 2011, é mais um caso de Golias usando Davi do que Golias sendo derrotado por Davi.

Em 2012, a característica mercadológica do prêmio é ainda mais presente pelo fato das vacas não terem emagrecido tanto de um ano para o outro, como tem sido regra de uma década para cá. Há um pouco de esperança no ar, mesmo que todo mundo saiba que é mais culpa de uma artista só – Adele, a provável rainha da noite – do que de fato uma recuperação da indústria. Adele é uma artista que qualquer executivo da indústria sonha: é talentosa, carismática, sabe levantar suas bandeiras e parece incrivelmente consciente do seu lugar no jogo. Essas características – e um álbum bom, com dois singles incríveis – fizeram de Adele uma verdadeira “campeã” da indústria em todas frentes de mercado. O marketing tratou de ressaltar que ela era “diferente da outras” e “de verdade”, o que facilitou tanto que ela conseguisse conquistar um público mais velho (os seus pais gostam de Adele) e mais bem informado (você gosta de Adele). As dores de amor atraíram o público feminino, enquanto o fato dela ser a única gordinha numa classe de gostosas combinou perfeitamente com o clima anti-bullying que domina principalmente o mercado americano.

Fora Adele, 2012 ainda foi um ano de demonstrações de força bruta por parte de alguns artistas, como “Born This Way” de Lady Gaga, “Watch The Throne” e a corrida desenfreada de Rihanna e Katy Perry pelo pódio das paradas. Mesmo que nem tudo tenha sido tão bem sucedido – artistas que fizeram menos barulho como Taylor Swift, Lil Wayne e David Gueta se deram melhor comercialmente – o Grammy é o momento perfeito da indústria agradecer o esforço de todas essas pessoas.

Esse clima da indústria de “somos uma família feliz e comercialmente bem sucedida” deve contaminar os prêmios e apresentações e a expectativa é que seja um anos de menos surpresas. Uma cerimônia correta, enfim.

Dito isso, passamos para uma parte mais objetivamente focada em futurologia, analisando as apresentações e os prêmios da noite.

As Apresentações

Os organizadores do Grammy sempre fazem questão de frisar que o “show” deles difere das outros awards pelo line-up de apresentações musicais, mesmo que nem sempre seja tudo tão bombástico e incrível como eles vendem. Nesse ano, o prêmio está realmente lotado de números musicais, o que a gente espera que vá deixar a transmissão mais divertida e com menos falação, mesmo contando com o fato do Grammy ter um mestre de cerimônia em 2012, o rapper LL Cool J.

Os shows da noite serão esses:

  • Adele
  • Jason Aldean e Kelly Clarkson
  • The Beach Boys com Foster The People e Maroon 5
  • Tony Bennett and Carrie Underwood
  • Chris Brown
  • Glen Campbell com Band Perry e Blake Shelton
  • The Civil Wars
  • Coldplay e Rihanna
  • Homenagem ao segmento Dance/Electronica com Chris Brown, Deadmau5, Foo Fighters, David Guetta, e Lil Wayne
  • Foo Fighters
  • Alicia Keys e Bonnie Raitt em homenagem à Etta James
  • Diana Krall
  • Bruno Mars
  • Paul McCartney
  • Nicki Minaj
  • Maceo Parker
  • Katy Perry
  • Bruce Springsteen And The E Street Band
  • Taylor Swift
  • Joe Walsh

Adele abre a premiação em sua primeira apresentação ao vivo desde outubro, quando teve que operar a garganta para não perder a voz, e infelizmente deve fazer aquele show “basicão” (“Rolling In The Deep” ou “Someone Like You” + o próximo single do álbum) que as pessoas vão justificar falando que “nossa, ela nem precisou de cenário para fazer um show melhor que todo mundo”. Sério, muito #sono de quem se apresenta num lugar desses e canta aquela mesma música sem, sei lá, sair de um ovo ou menstruar no palco ao mesmo tempo. Sou #teamgaga nessas horas.

Nesse sentido, espero bastante a apresentação de Nicki Minaj, que vai para o Grammy numa daqueles momentos “tudo ou nada” da carreira. Vai lançar disco daqui pouco, vai ganhar prêmio (Melhor Artista Novo, chuto) e está cheia se sanguenozóio para deixar as outras biatches para trás. A música que ela canta, dizem, é o segundo single de “Roman Reloaded” depois de “Stupid Hoe”ter flopado bonito. Esperamos um pouquinho de “Super Bass” também.

Coldplay e Rihanna também é algo que pode render. Ao contrário de 99% das pessoas, eu curto “Princess Of China” e a vibe “colorido, sim e daí?” de “Mylo Xyloto”. Fora que a Rihanna está +qd+ nessa fase “a porra da buceta é minha” que ela vem melhorando desde o lançamento do “Loud”. Ainda, imagina só essa cena possível: Rihanna dando uma surra de bunda no Chris Martin no palco e a câmera cortando vez ou outra para cara de terror e desespero de Gwyneth Paltrol na plateia.

Fora as apresentações de country e de coisas que geralmente ninguém liga (Diana Krall??? Tony Bennett??? Carrie Underwood????), sobra bem pouco. Katy Perry tem tudo para se constranger e nos constranger voltando ao lugar onde ela CELEBROU SEU AMOR POR RUSSELL BRAND ano passado para cantar “Firework”. Bruce, Foos e Paul são o tipo de coisa que todo mundo vai falar que “salvou a Grammy”, mesmo que a verdade seja o contrário. A gente espera que Bruno Mars fique só com “Grenade” e não se atreva a homenagear Amy Winehouse cantando uma música que não é dela como no VMA.

Alicia Keys e Bonnie Raitt homenageando Etta James é algo que pode render um bom momento, o que não se dá falar do tal “segmento Dance/Electronica” com Foo Fighters, David Guetta, Lil Wayne, Deadmau5 e Chris Brown. O retorno dos Beach Boys seria algo legal por si só, mas daí alguém teve a brilhante ideia de chamar o Foster The People e o Maroon 5 para participar.

Os Prêmios

O Grammy é conhecido por suas várias categorias, com divisão de gênero e tipo de artista, mas na verdade o que importa mesmo são as 4 gerais: Álbum do Ano, Gravação do Ano, Canção do Ano e Melhor Novo Artista. Dessas, Adele só não concorre em Melhor Novo Artista, prêmio que ela levou em 2009.

Embora você provavelmente já sabia o que vai acontecer, dissecamos as 4 categorias:

Álbum do Ano

Adele – “21”
Foo Fighters – “Wasting Light”
Lady Gaga – “Born This Way”
Bruno Mars – “Doo-Wops & Hooligans”
Rihanna – “Loud”

QUEM VAI GANHAR: Adele. Pelas milhões de cópias vendidas, pela boa repercussão que vai trazer para o prêmio, pelo dever de premiar quem está carregando a indústria nas costas.
QUEM PODE GANHAR: Foo Fighters. Porque já perderam em 2006, porque todo mundo gosta deles e por uma possível divisão entre os votantes pop, com 4 discos para escolher.
QUEM MERECIA GANHAR: Lady Gaga. Porque vem de 2 indicações perdidas e fez o único álbum dos 5 que é minimamente desafiador. Até mais do que Adele, trabalha duro para manter a indústria de pé.

Gravação do Ano

Adele – “Rolling In The Deep”
Bon Iver – “Holocene””
Bruno Mars – “Grenade””
Mumford And Sons – “The Cave”
Katy Perry – “Firework”

QUEM VAI GANHAR: Adele. Porque tocou em todos os lugares e agrada qualquer tipo de público, o que conta bastante nessa categoria.
QUEM PODE GANHAR: Katy Perry. “Firework” foi o hit irritante de 2011 e, caso os votantes tenha preferido eleger “Rolling In The Deep” só em Canção do Ano, é a outra música que chamou atenção entre as 5.
QUEM MERECIA GANHAR: Adele. Porque é realmente uma das melhores gravações dos últimos tempos e não perde nada do seu brilho mesmo depois de 1 ano.

Canção do Ano

Adele – “Rolling In The Deep”
Bon Iver – “Holocene””
Bruno Mars – “Grenade””
Mumford And Sons – “The Cave”
Kanye West – “All Of The Lights”

QUEM VAI GANHAR: Adele. Ela é uma das poucas que pode fazer barba, cabelo e bigode no Grammy vencendo as 3 mais, o que nos livraria das outras 4 canções medianas indicadas.
QUEM PODE GANHAR: Bruno Mars. Porque é considerado um bom compositor por grande parte dos votantes, mesmo que já tenha feito coisas melhores.
QUEM MERECIA GANHAR: Kanye West. Porque eu estou com saudade de Kanye West subindo ao palco em premiações.

Melhor Novo Artista

The Band Perry
Bon Iver
J. Cole
Skrillex
Nicki Minaj

QUEM VAI GANHAR: Skrillex. Todo esse esforço do organizadores em colocar a música eletrônica em pé de igualdade com os outros gêneros tem que gerar um prêmio para não ser em vão.
QUEM PODE GANHAR: The Band Perry. Porque os votante pira no country.
QUEM MERECE GANHAR: Nicki Minaj. Porque é a personagem mais interessante dos 5. Mesmo que o nosso coração indie grite “Bon Iver”, estamos meio sentidos com o fato de Justin Vernon ser um babaca com síndrome de underground.