qinhO | O Tempo Soa

qinhO

O Tempo Soa

[Oi Música; 2012]

7.9

ENCONTRE: Oi Música

por Yuri de Castro; 15/02/2012

Ainda que crie aprazível sensação aos pares de sua geração que curtem um aplauso ao rei-Sol na pedra do Arpoador, a música de qinhO não destaca-se por algo que possa (agora) ser vendida na prateleira dos mais vendidos. Isto posto, temos uma parte da indecisão que marca “O Tempo Soa”, segundo álbum de Marcos Coelho Coutinho, cujo apelido marcou também o nome da banda de seu debute artístico, a Vulgo Qinho & Os Cara.

“Canduras”, primeiro álbum de qinhO, é naturalmente insatisfeito. O que soa em “Canduras” é a resposta pro descanso da sua banda e, ao mesmo tempo, é o próprio qinhO, ele e o violão, ele e o compositor. Devagarinho (e cuidadoso – a arte gráfica do álbum é impecável), o disco foi chegando a ouvidos que não estavam esperando, assim do nada, a facilidade radiofônica de “Mais uma Janela” em um mesmo álbum com eclosões de supostas despretensões musicais que, sempre, culminavam em pequenos ápices, seja em “Ver Livre”, “As Voltas” ou em “Sem Ar” – esta, uma das peças mais contundentes da carreira do rapaz.

Ainda que “O Tempo Soa” tenha mesmo a cara de um registro principal da carreira do cantor, esse impacto é relegado em suas primeiras horas. Aqui, bem de acordo com o título do álbum, estão pouco as rupturas de qinhO e, sim, as aquisições após a confecção de “Canduras”. As colaborações, as participações em shows, o BleQinho, as parcerias (em estúdio e ao vivo) e as apresentações em lugares bem variados: soam todas nesse ínterim de pouco mais de 35 minutos.

Há um exercício em “Macia Bahia” e “Irmã Forte”, faixas que abrem o álbum. Não só em imprimir o título do álbum em suas concepções de composição, mas também em estender a música de qinhO por um ventre de saída ainda obscura, mas possível. E essa saída é se tornar soável, amenizar o paladar. Não há desmérito. Nem em “Macia Bahia”, que é redonda, pegada. Tampouco em “Morena”, que recebe Elba Ramalho e traz um gosto pra quem há de estranhar a ainda recente voz de qinhO tocando no rádio durante o trânsito. Sim, rádio. Ao que tudo indica, é um disco com singles. “Morena” vai pra rádio de MPB Light, “Macia Bahia” pra contemporânea. E, se houver fôlego, a outra colaboração em “O Tempo Soa” é impressionante: “Segredinho”. Mas é preciso, antes, entender que esse disco nasce pra ser um disco.

A segunda metade de “O Tempo Soa” chega a ser covardia. Covardia esta tão impiedosa quanto confessional. Divida pela faixa-título, a bolachinha vira com “Mesmo Assim”, “Troca”, “Segredinho”, “Caminhada” e “Coração Gigante”. E aqui, claramente, é um disco de dois lados. qinhO entra nesse lado B em uma balada que pode ser o arrependimento de uma noite sexual mal sucedida. “Não sei porquê mas não veio / Precisei tanto tempo aqui do teu seio / Queria que eu fosse um herói / mas não sou nada além de um ser”, canta, enquanto o ouvinte começa a entender tudo. Troca adentra seus quase quatro minutos para anunciar a já citada Segredinho. Reta, calma, com a guitarra marcando de lado os primeiros versos, a faixa traz Mart’nália e um tom ainda menos ingênuo. Um achado de participação. E esta é a parte mais interessante de “O Tempo Soa” porque talvez insista no que trouxe vida à “Canduras”: a intensidade.

Depois dos enlaces, de um chamego e de uma conversa ao pé do ouvido, consuma-se o ato e “Coração Gigante”, peça conhecida dos shows de qinhO antes do lançamento do álbum, traz os amigos para o abraço e para o canto na sala do apartamento e no refrão dobrado. Mas o jogo não está ganho: o tempo ainda não viu, não veio e não (con)venceu o ouvinte de que o cantor à frente do registro é algo confirmado. No final do regulamentar, o álbum é que acaba cedendo tempo a mais para qinhO: tanto para esquecer uma música que poderia ser descartada e aproveitada por alguma banda cover de Natiruts (“Irmã Forte”), quanto para, ao vivo, agigantar ainda mais as nuances contidas na maioria das faixas de “O Tempo Soa”. Detalhes a parte, o álbum é mais um produto da difícil missão de quem trilha os caminhos de uma música que ainda não encontrou seu tempo e seu dinheiro na audiência brasileira, trazendo, por vezes, uma música que se apresentar como um gentleman dizendo “olá, senhor ouvinte, aprecie-me primeiro por esta via mais fácil”. Se perder muito tempo com isso, periga a qinhO e a todos os seus pares não só a dúvida da continuidade, mas também de se aprisionarem em um nicho que explora faz tempo essa fatia brasileira de música adulta moderna e contemporânea.