Rosie And Me | Arrow Of My Ways

Rosie and Me

Arrow of my Ways

[Independente; 2012]

7.4

ENCONTRE: Site oficial

por Felipe Gollnick; 14/02/2011

E então você está aí, sentado no seu canto, ouvindo sua música, quando um banjo dedilhado e uma delicada e profunda voz feminina fazem você parar de fazer o que está fazendo, para que na sequência você se sinta encantado com o que está ouvindo, e depois passe a refletir sobre as coisas, sobre a vida, sobre as pessoas.

E isso são só as notas iniciais de “Home (Intro)”, a primeira faixa do álbum “Arrow of my Ways”, do grupo curitibano folk Rosie and Me. Lá pelo final do terceiro minuto o disco já passou dos seus ouvidos e atingiu seu coração. A partir daí há uma infinidade de sentimentos desencadeáveis, e tudo depende das coisas pelas quais você tem passado recentemente. Esteja começando um namoro e sinta-se aquecido; tenha terminado um relacionamento e sinta-se melancólico; tenha sofrido uma grande perda e sinta-se amparado.

Muito disso está na autêntica autoentrega da vocalista Rosanne Machado às suas próprias músicas. Seu coração, seus pensamentos, ela própria parece estar inteira em “Arrow of my Ways”. Daí o fato de o álbum ser tão identificável. São sentimentos autênticos, não há como negá-los. Até o próprio processo de produção do disco, completamente independente e gravado em um estúdio caseiro, ajudou na impressão dessa autenticidade.

“Shotgun to The Heart” parece ser uma ode ao reerguer-se, ao realegrar-se. “Where The Heart Is”, com a participação especial de Joshua Thomas, passeia pelas ruas geladas de uma cidade fria, repleta de pessoas frias, até achar alguém que tenha um sorriso que aqueça. Há olhos lacrimejando em “Southern Home”, “I Couldn’t Reach You” é também triste, mas a mais animada do disco. “Carry On” encerra o disco com alguma grandiosidade e é uma das melhores do álbum, mas o ponto alto é realmente a profundidade acolhedora e apaixonante de “Home (Intro)”, também com Joshua Thomas.

Há que se dizer, no entanto, que apesar da imensa profundidade sentimental do disco (com a qual todos iremos nos identificar, a não ser que tenhamos corações de pedra), alguma coisinha fica faltando no campo sonoro/melódico. Falta algo para assobiar junto, algo que faça esta ou aquela sequência de notas ficar presa na sua cabeça de modo que você fique ansioso para ouvir cada música novamente.

“Arrow of my Ways” ensaia ser um grande disco, mas esbarra em alguma coisa invisível, e acaba chegando apenas perto dessa grandeza. Talvez tenha faltado justamente o que fez o EP “Bird and Whale” (2010) ficar tão em evidência quando foi lançado: um apoio em melodias levemente mais pop — não ao ponto de fazer o grupo perder sua identidade, mas a deixar suas músicas mais cantaroláveis e, por que não?, excelentes.

Entre tudo isto, o Rosie and Me agora cresce e solidifica-se como grupo. Após terem enfrentado mudanças na formação e problemas com o selo com o qual tinham assinado, eles já não parecem ser apenas o grupo jovem e revigorante de “Bird and Whale”, mas sim uma banda crescida e amadurecida, capaz de fazer pessoas se emocionarem utilizando-se de autenticidade e sentimentos profundos.

* Felipe Gollnick também escreve no Defenestrando