Cambriana | House Of Tolerance

Cambriana

House Of Tolerance

[Independente; 2012]

8.3FITA RECOMENDA

ENCONTRE: Bandcamp

por Livio Vilela; 16/03/2012

Ultimamente tenho pensado que a maneira mais eficiente de uma banda fazer seu primeiro disco é parecendo com tudo e não parecendo com nada ao mesmo tempo. É uma alquimia complicada: soar familiar para para os fãs de outros artistas, mas soar minimamente diferente para que te levem a sério. Muita gente falha pendendo para um dos dois lados, o que pode ser uma pá de cal numa época viciada no novo, em que álbuns de estreia às vezes parecem mais o último capítulo do que o início da história.

“House Of Tolerance”, primeiro álbum da banda goiana Cambriana, caminha nessa linha fina entre o derivativo e o inédito. Se por um lado é fácil apontar quem é quem ao longo das 10 faixas – Grizzly Bear, The National, Interpol, Arcade Fire Radiohead, britpop em geral são algumas das referências – é difícil dizer com precisão para onde exatamente eles estão mirando. Isso não só tira o força de qualquer comparação que pudesse prejudicar a banda, como joga luz no esmero com que Luis Calil (líder, vocalista e principal compositor) construiu sua primeira grande obra.

Gravado ao longo do ano passado num home studio (só as vozes e os violões foram registrados num estúdio “profissional”), o álbum é ao mesmo tempo detalhado e discreto. O que significa, ao longo dos 38 minutos, é que sempre quando a banda está deliberadamente tentando chamar sua atenção, – as intromissões de metais em “Vegas”, o ritmo marcial de “Safe Rock”, a piscadela para as pistas de dança de “The Sad Facts” – eles fazem isso de uma maneira que soa perfeitamente natural. Tanto musicalmente, quanto liricamente, Calil compôs um álbum de movimentos contidos, ligeiramente misteriosos, que soa confortável e convidativo. Um misto da doçura dos britânicos pós-britpop (David Gray, Danny McNamara do Embrace e Guy Garvey do Elbow) com a indiferença quase letárgica dos revivalistas do pós-punk (Tim Fletcher do The Stills e Tom Smith do Editors), seu timbre completa a equação.

Óbvio que nem tudo é exatamente sutil. “Swell” é a carcaça de “While You Wait For The Others” do Grizzly Bear reprocessada até perder quase todo charme da original e é basicamente impossível não gritar “Fleet Foxes!” no início de “Waitress”. Fora que às vezes tenho a impressão que o som do teclado veio direto daquela desastrosa confusão que é “X&Y” do Coldplay. São deslizes, sim, mas nada que comprometa o resultado final.

No fim das contas, é bom que “House Of Tolerance” exista e esteja recebendo tanta atenção. Ele já seria um triunfo só pelo fato de vir de um lugar que até pouco tempo só exportava dupla sertaneja e banda de rock “de roqueiro” e, no entanto, parece tão desligado da paisagem da música brasileira em 2012 que funciona como um respiro. É certamente mais do que todo mundo esperava e – às vezes – parece exatamente aquilo que a gente queria.