Phill Veras | Valsa E Vapor

Quase tudo que se apresenta em “Valsa e Vapor”, o EP de estreia de Phill Veras, concorre para a criação de um discurso – em geral de rejeição – bem conhecido pra quem acompanha mesmo que um pouco a música brasileira. A capa, o título, os timbres dos violões e instrumentos adicionais, a mansidão do canto de Veras, os temas das canções, tudo, enfim, tudo mesmo, em “Valsa e Vapor” parece ser cópia e cria do trabalho pós-Los Hermanos de Marcelo Camelo.

Como o som de Phill Veras em “Valsa e Vapor” nós temos aos montes, a dar com pau, a perder de vista no horizonte da música brasileira dessa década. Não seria difícil enumerar dezenas de novos artistas (e só não o faço por preguiça e cortesia) que se acham e se perdem no som moldado e formulado em especial por Camelo. Os tons pastéis da capa, por exemplo, fazem lembrar a capa de estreia de outro representante-mor da fofura na música brasileira. E, se a voz de Veras na maioria das vezes soa algo como um Hélio Flanders mais doce, o ritmo e a suavidade de suas composições e de seu canto são consequências diretas da obra de Camelo.

E, como a grande, a imensa maioria dos artistas inseridos nessa estética recente, Phill Veras está longe da maturidade de composição do frontman do Los Hermanos. Os arranjos tampouco são lá de se encantar e ficar. Assim como há muito caminho pela frente para a voz de Veras. As letras se mantêm na relação do eu-lírico e seu amor, perdido ou não e há pouca invenção nessa temática. Em resumo, você já ouviu tudo isso antes. “Acabou de Acabar“, uma das melhores faixas do EP, por exemplo, tem um arranjo de violão muito semelhante (ou, como se diz por aí na rua, cuspido e escarrado) de “Janta“, vulgo a canção mais fofa jamais feita por um cara de barba.

Contudo, há na voz, nas letras, na maneira como Veras dispõe cada instrumento de terno timbre, na melodia, enfim, em quase tudo de “Valsa e Vapor”, há ali uma suavidade honesta, uma inocência íntegra, uma delicadeza distante da falsidade. Há enfim, verdade na música de Phill Veras. De fato, há muito pouco de original no trabalho de Veras, há mais do mesmo, mas um mesmo gostoso para quem quer um disco suave, digamos, de verdade, que não se perde na sua singeleza. O que faz com que todos os maneirismos advindos dessa estética “cameliana” se tornem, ao fim e ao cabo, bobagem, besteira. Há centenas de artistas querendo mesmo que inconscientemente fazer um som como o de Marcelo Camelo, Phill Veras é um desses poucos que, se não conseguem sobressair-se dessa pecha maldita, conseguem ser bons no que se propõem. E por vezes ser bom é o bastante.