GRAMMY 2014: o que esperar

Chegou a hora, mais uma vez. O Grammy 2014 acontece neste domingo, 26 de janeiro, e o Fita Bruta vai estar comentando tudo ao vivo aqui ou no Twitter. No meu texto anual sobre os GRAMMYs (leia o de 2012 aqui e o de 2013 aqui), eu sempre acho válido lembrar de como funciona ou pelo menos, como achamos que funciona o prêmio. O Grammy, como seus irmãos de outras mídias, não é um prêmio sobre a música em si, sobre as obras, e sim sobre o que está ao seu redor. Nem sempre é justo, nem sempre é injusto, mas ainda, ao contrário do que muitos dizem, é muito importante. E não só para quem trabalha na indústria, não se engane. Um exemplo bom é o “21” da Adele, o disco que mais vendeu nessa década, e que teve sua maior semana de vendas (mais de 700 mil cópias só nos EUA) justamente na semana seguinte a sua vitória consagradora no Grammy 2012. E algo parecido aconteceu com o Mumford & Sons no ano passado, o que mostra a capacidade do prêmio de sedimentar (em alguns casos, impulsionar) carreiras. Com tanto em jogo (mais do que em qualquer outro prêmio da música), é sempre importante olhar a premiação como um termômetro que mostra o que uma parte ainda importante do mercado da música está pensando. Mesmo que seja para discordar daquilo tudo.

Sendo assim, digo novamente:

Tal qual seu irmão cinematográfico, o Grammy é um prêmio tão político quanto musical. É sobre quem se comportou bem durante todo ano, quem conseguiu colocar seu produto à mostra e, sim, quem conseguiu vender sua arte naquele intervalo de 12 meses (a Academia considera o um período de outubro a setembro para as indicações). Mesmo quando há algumas boas surpresas, como a vitória do Arcade Fire em Álbum do Ano em 2011, é mais um caso de Golias usando Davi do que Golias sendo derrotado por Davi.

Depois de uma estranha volta aos ritmos tradicionais (Mumford & Sons, Black Keys, Jack White etc) em 2013, o Grammy parece corrigir a rota e tentar se alinhar com o que as pessoas com menos de 30 estão ouvindo. Isso significa não só Taylor Swift, Katy Perry e Lorde, mas principalmente o retorno do rap às categorias principais, junto com a estranha consagração da música eletrônica através de um álbum que de eletrônico tem muito pouco.

O que a NARAS (National Academy Of Recording Arts And Sciences) parece tentar dizer é: estamos atentos às mudanças, mesmo que nem sempre gostemos delas. E essa mudança é tanto estilística, quanto mercadológica. Reconhecer o sucesso feito à margem da indústria de Macklemore & Ryan Lewis é mais uma atitude positiva de aproximação com as gravadoras independentes, algo extremamente importante num mercado que hoje corre o risco de ser dominado por apenas 3 grande conglomerados. Apesar de “The Heist” ser o único álbum independente dos 5 indicados a “Álbum do Ano”, tanto “good kid, m.A.A.d. city” quanto “Random Access Memories” ainda tem um quê de outsiders, se pensarmos que o Grammy poderia bem ter olhado para a própria barriga e coroado a volta de David Bowie e Justin Timberlake (ou então filhotes raça-pura da indústria como Robin Thicke, Rihanna ou Bruno Mars).

E falando de outsiders, há também Lorde cuja “Royals” é a única música além de “Locked Out Of Heaven” a concorrer tanto a “Canção do Ano” (onde deve ganhar), quanto “Gravação do Ano” (onde deve perder). Apensar de ter nascido dentro da indústria (ela foi contratada com 13 anos), “Pure Heroine” e “Royals” são as mais claras representações que a definição do “som do sucesso” mudou radicalmente de 2 anos para cá, mesmo que Dr. Luke ainda esteja indicado a “Produtor do Ano”.

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As Apresentações

Não teremos Miley, não teremos Gaga, não teremos Kanye, o que provavelmente indica que o Grammy preferiu passar longe das polêmicas nesse ano. Mas teremos as primeiras apresentações ao vivo das novas fases Daft Punk e Beyoncé, o que é suficiente para manter o fluxo de tweets em alto volume. Os robôs vão tocar com Nile Rodgers, Pharrell e – é isso que todo mundo quer ver – Stevie Wonder. “Get Lucky” é quase uma certeza dada a indicação, mas será bacana ver algum lado B do “Random Access Memories” (“Doin’ It Right”? “Give Life Back To Music”? “Touch”?) ao vivo.

Beyoncé provavelmente vai toca “Drunk In Love” com Jay-Z, que deve se apresentar solo também, já que é o mais indicado da noite. Talvez Bey ainda escolha a noite para começar a divulgação de “XO” nos EUA, já que o hit foi escolhido como o segundo single de “Beyoncé” para o país (foi o 1º para o resto do mundo). Esperamos que ela cumpra a profecia e lacre o cu das inimigas.

No segmento anual dos Beatles, Paul McCartney e Ringo Starr provavelmente vão tocar juntos e receber mais um prêmio pelo conjunto da obra ou algo do tipo. Entre os outros tributos confirmados, Kris Kristofferson será homenageado por Willie Nelson, Blake Shelton e Merle Hagard. O encerramento ficará por conta de uma apresentação com Nine Inch Nails, Queens Of The Stone Age, Lindsay Buckingham e Dave Grohl, o que indica uma homenagem ao estúdio Sound City. Billie Joe e Miranda Lambert farão um tributo ao recém-falecido Phil Everly.

Madonna também foi confirmada com uma das atrações da noite. Ninguém sabe o que ela vai fazer, mas as possibilidades são alguma espécie de apresentação do seu Secret Project ou uma participação no show de outro artista. Na última opção, Taylor Swift, Beyoncé, Lorde ou Katy Perry parecem as escolhas óbvias. Dessas 4, estamos torcendo para que seja com Lorde ou Taylor Swift.

Veja a lista completa:

  • Beyoncé
  • Billie Jor Armstrong e Miranda Lambert (Tributo a Phil Everly)
  • Daft Punk com Pharrell Williams, Nile Rodgers e Stevie Wonder
  • Dave Grohl, Lindsay Buckingham, Nine Inch Nails e Queens Of The Stone Age
  • Gary Clark Jr.
  • Hunter Hayes
  • Jay Z
  • John Legend
  • Kacey Musgraves
  • Katy Perry e Juicy J
  • Keith Urban
  • Kendrick Lamar e Imagine Dragons
  • Kris Kristofferson com Willie Nelson, Blake Shelton e Merle Haggard
  • Lorde
  • Macklemore & Ryan Lewis
  • Madonna
  • Metallica e Lang Lang
  • Paul McCartney
  • Pink e Nate Ruess
  • Ringo Starr
  • Robin Thicke e Chicago
  • Sara Bareilles e Carole King
  • Taylor Swift
  • Trombone Shorty & Orleans Avenue

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Os Prêmios

ÁLBUM DO ANO

Daft Punk – “Random Access Memories”
Kendrick Lamar – “good kid, m.A.A.d. city”
Macklemore & Ryan Lewis – “The Heist”
Sarah Bareilles – “The Blessed Unrest”
Taylor Swift – “Red”

VAI GANHAR: cada um dos os quatro principais indicados – Taylor, Kendrick, Daft Punk, Macklemore – tem pontos a favor para levar. Taylor tem 1.2 milhões de cópias na 1ª semana de vendas; Daft Punk tem “Get Lucky” e o fato de ter vindo com o discurso de um “álbum à moda antiga”; Macklemore & Ryan Lewis são rap, mas nem tanto; Kendrick tem o disco mais elogiado dos últimos anos. Então nosso palpite é: não vai ser a Sarah Bareilles.
MERECE GANHAR: Kendrick Lamar. Pelo disco que é realmente incrível, mas também por ter forçado todo MC (menos o Jay Z) a escrever rimas melhores em 2013.

GRAVAÇÃO DO ANO

“Blurred Lines” – Robin Thicke feat. Pharrell Williams & T.I.
“Get Lucky” – Daft Punk feat. Pharrell Williams e Nile Rodgers
“Locked Out Of Heaven” – Bruno Mars
“Radioactive” – Imagine Dragons
“Royals” – Lorde

VAI GANHAR: “Get Lucky”. Embora “Royals” e “Blurred Lines” tenha sido tão ubíquas quanto o hit dos robôs, nenhuma dessas música fez um crossover tão grande quanto “Get Lucky”. Como “Hey Ya”, “Clocks”, “Use Somebody” ou “Rolling In The Deep” em outros anos, essa foi a canção para você, para o seu irmão mais novo, sua tia, seu chefe, seu porteiro e até para o Fita Bruta.
MERECE GANHAR: “Get Lucky”.

CANÇÃO DO ANO

“Just Give Me A Reason” – Pink feat. Nate Ruess
“Locked Out Of Heaven” – Bruno Mars
“Roar” – Katy Perry
“Royals” – Lorde
“Same Love” – Macklemore & Ryan Lewis feat. Mary Lambert

VAI GANHAR: “Same Love” ou “Just Give A Reason”. Apesar de serem as duas canção mais chatas, essas baladas açucaradas parecem do tipo que a NARAS costuma premiar na categoria. “Roar” é uma possibilidade, mas vai soar como um prêmio tardio para Katy, Dr. Luke, Max Martin e Bonnie McGee, que mereciam uma indicação por “Teenage Dream” em 2011.
MERECE GANHAR: “Royals”. Embora “Locked Out Of Heaven” seja igualmente boa, “Royals” é uma daquelas canções que vai ser copiada diversas vezes pelos próximos anos.

MELHOR NOVO ARTISTA

Ed Sheeran
James Blake
Kacey Musgraves
Kendrick Lamar
Macklemore & Ryan Lewis

VAI GANHAR: tradicionalmente o lugar preferido das zebras, essa categoria deve premiar algo mais óbvio em 2014. Ed Sheeran parece a escolha mais óbvia, pelo fato de já ser um rosto conhecido pelos votantes e ser tão MOR quanto possível. Kacey Musgraves mostraria a força do country, que já levou a categoria em outros anos. Kendrick Lamar pelo respaldo da crítica.
MERECE GANHAR: Kendrick Lamar. Por mais que eu adore o James Blake, Kendrick é o homem da vez.