Bárbara Eugênia: É O Que Temos

O principal desafio da safra atual de cantoras proeminentes é ser mais do que “legal.” Cada uma faz seu jogo: por alto, a Tulipa Ruiz lidera a trupe, com a Karina Buhr na ala rebelde e a Clarice Falcão nas fofurices (desnecessárias). “É o Que Temos” [Oi Música; 2013] define a posição que Bárbara Eugênia ocupa nesse rol. Em seu novo álbum, ela dá voz a uma viagem da cena paulista pela Jovem Guarda e o rock psicodélico sessentista. E faz bem.

O legalismo das contemporâneas de Bárbara (Anelis, Blubell, Luisa Maita, etc) é uma armadilha disfarçada de benção. Ninguém nega as boas referências, talento e acompanhamento luxuoso de alguns dos melhores musicistas do país que elas têm. São armadas de um bem estar abusivo que esbarra em constantes irregularidades em suas canções. Apresentam um repertório que soa bem aos ouvidos, mas não gruda. “É O Que Temos” deixa Bárbara um passo a frente das amigas.

Ela foi a voz sedutora da banda cover de Serge Gainsbourg de Edgard Scandurra. Cantou com esse encanto no debut, “Journal de BAD” (2010), e agora na continuidade do estilo, mais evidente na francófona “Jusqu’à la mort,” fica claro como ela chega com melodias e canções mais afinadas. O dueto com Pélico em “Roupa Suja” é certeiro e sem firulas, a música tem o andamento de uma luta de esgrima entre marido e mulher: tão delicada e tranquila quanto séria.

“Por Que Brigamos (I Am… I Said)” escancara o romantismo da Jovem Guarda pelo teclado típico ao fundo e a narrativa confessional sobre o amor. A genialidade fica pela guitarra à la Lanny Gordin. O tom extremamente agudo dos riffs traz a boa lembrança dos álbuns de Gal Costa lançados em 1969. Essa busca por uma estética do passado é um dos charmes do álbum. Em “I Wonder” o bate tecla do piano e a levada calma do baixo tem um quê de anos 20. A buzina de padeiro no final dá a pista final nostalgia. Uma bossa alto astral que ressoa em outras faixas do álbum, como em “You Wish, You Get It,” que mete a mão no surf rock.

As parcerias e escolhas acertadas de Bárbara Eugênia a valorizam como cantora em “É O Que Temos.” Numa mescla de influencias comum as suas congêneres, ela sobressai com canções de reconhecimento fácil levemente tensionadas. Um grato presente de uma moça bonita.