Bidê ou Balde | Eles São Assim e Assim Por Diante

Ninguém gosta do amigão da galera. Ele desperta enjoo, cansaço. Às vezes, até o invejamos. Não foi fácil ver o Dr. Sr. e Excelentíssimo Renato Aragão se transformar em um mala. De uma hora pra outra, a ironia e o escárnio desse personagem não servem para encorpar a brincadeira que surge contra ele próprio. O ar muda e, provavelmente, ele emplacará uma luta psicológica em busca do seu calcanhar de Aquiles. André Santana que nos diga.

O Bidê ou Balde é uma espécie de anti-herói. Por ser gaúcha, de alguma forma, acaba lutando contra todas as tentativas de rock extremamente viril, stoner, do sul do país. Sem muita noção do humor involuntário que provocam, as letras e os berros de Carlinhos Carneiro faz da banda a única que poderia usar o termo “despretensioso” definitivamente como adjetivo. E, por acertar nisto, a Bidê ou Balde deixa de ser totalmente despretensiosa.

O grande problema do sexto álbum dos porto-alegrenses, “Eles São Assim e Assim Por Diante”, é que, por vezes, eles ignoram os Trapalhões e emulam o conceito do anti-herói hollywoodiano, no qual as antíteses do herói são apenas óbvias. Como em um filme estrelado por Will Smith, este disco do Bidê ou Balde pode encantar pelo carisma, mas quase nunca pela tentativa.

Quando abandona o “Todo Mundo em Pânico” e passa a ser “Os Trapalhões e o Mágico de Oroz”, tudo melhora: “Coisinhas Nojentas de Amor” é melhor do que todos os discos do I’m From Barcelona; você vai cantar o refrão de “João da Silva” e se perguntar como não surgiu nenhum constrangimento em sua face após terminar os versos. E não surgirá. É uma das grandes faixas da banda. Assim foram também “Melissa”, “Mesmo Que Mude”*, “E Por Quê Não?”, “É Preciso Dar Vazão Aos Sentimentos”, outros hits.

Há uma série de vinhetas intercaladas em “Eles São Assim e Assim Por Diante” que podem denunciar como os integrantes do Bidê ou Balde sabem rir do que eles tentaram até agora — o que não significa que tudo até foi realmente engraçado. Nem mesmo “Eles São Assim e Assim Por Diante” é. Pode ser que a obra do Bidê ou Balde até aqui nem tenha existido mesmo pra ser engraçada. Vai que Didi Mocó, pobretão e malandro, era fato infeliz. Vai que. A sorte dos gaúchos é que o personagem ainda não chegou na melancólica amargura que toma o ator cearense. Ainda há chances de que a banda evite ter a parte do humor com extintor como a mais engraçada do roteiro.