Christopher Owens | Lysandre

Christopher Owens, uma das metades fundadoras da bem sucedida e recém-extinta Girls, é uma das figuras mais interessantes da cena indie norte-americana, e não só pela sua história dentro da banda. Criado pela mãe em vários países e dentro de um culto fundamentalista com origens no movimento hippie, não é difícil de imaginar como foi diferente sua formação como pessoa e como músico. Talvez por isso, mas não somente, haja na música de Owens uma pureza e sinceridade não pouco raras hoje em dia. Ainda mais raras quando tomamos como universo a tal cena indie americana, cheia de artistas competentes, mas que se utilizam da imprecisão ou da incerteza para atingir algo mais sublime e abrangente na sua música. Beach House, por exemplo.

Os melhores feitos de Owens vão em outra direção: na do que é visceralmente próprio e individual. A habilidade de Owens em cantar sua solidão ou seu convívio amorosos, seu vazio ou sua felicidade, ou algo mais próprio como sua relação com a mãe, sempre foi intensificada por outra habilidade pouco comum: a de compor melodias estranhamente habituais e ao mesmo tempo cheias de beleza. Assim, tanto na letra quanto na música de Owens o que ouvimos é o comum sublime, em uma forma muito própria e ao mesmo tempo universal.

É curioso que “Lysandre”, seu primeiro álbum solo, seja de composições criadas antes e a partir de um acontecimento anterior a “Album”, o primeiro lançamento do Girls. É como se Christopher Owens afirmasse que sua música já estava lá, quase pronta, mesmo antes do Girls, de seu encontro com Chet White. É interessante que Owens deseje recomeçar sua carreira com composições antigas e não com mais recentes. Há um bocado de intenções implícitas nesse gesto, e a principal talvez seja a de liberar-se da figura de mentor e produtor que White exercia no Girls.

Por esse ponto de vista, não é de estranhar que “Lysandre” possua muito pouco da produção atribuída a Chet White: aquela voltada para o lo-fi, com influências do surf rock e do rock do início dos anos 1960. Esse movimento de “limpeza” do rock composto por Owens já havia acontecido no álbum “Father, Son, Holy Ghost“, segundo e último lançamento do Girls. Contudo, foi no EP “Broken Dreams Club”, lançado um ano antes de “Father, Son, Holy Ghost”, em que a composição de Owens encontrou uma produção ainda mais próxima de “Lysandre”.

Portanto, a limpeza e a leveza sonora que aproximam “Lysandre” do clássico soft rock até possuem razão de ser, mas há problemas neste disco que vão além das opções estéticas de Christopher Owens. A escolha de uma narrativa para todo o disco – a relação amorosa e passageira de Owens com uma garota francesa durante sua primeira turnê, faz com que o álbum possua uma óbvia unidade, em especial considerando que há um leitmotif para nos relembrar insistentemente que existe uma história ligando todas as faixas. Entretanto, há na composição de Owens em “Lysandre” uma ingenuidade tola, uma simplicidade inconsequente. Na canção chave para a estética do disco e da carreira de Owens, “Love Is In The Ear Of The Listener” ele canta: “What if I’m just a bad songwriter / And everything I say has been said before?” com a preguiça e o desânimo daqueles com dificuldades de criação (artística).

Christopher Owens em “Lysandre”, bem ao contrário do que soava no Girls, parece exausto de ser ouvido. O resultado disso é um disco de letras preguiçosas, contaminadas por lugares comuns, em que as boas melodias não encontram nas letras um bom momento para revelarem algum significado além. Owens canta em “Here We Go” que “(…) if your ears are open / You will hear honesty from me, tonight”. De fato, há honestidade na composição de Owens, mas uma honestidade fria, apática. Os piores momentos de “Lysandre” são quando Owens decide transformar sua composição numa espécie de storytelling, uma narrativa de si mesmo fazendo sua primeira turnê e encontrando novos e passados amores. Os melhores são quando Owens retoma sua composição direta e a passa para a primeira pessoa, muito comum no Girls. Christopher Owens é grande quando, na sua música, é o interlocutor. Falta na produção de “Lysandre” um apuro estético que talvez reflita a ausência de Chet White, mas a música de Chistopher Owens perdeu a maior parte de sua força devido a ausência de seu próprio compositor.