Dirty Projectors | Swing Lo Magellan

Existem poucos seres na música, hoje, que poderiam ser classificados como seres individuais. Quase todo mundo pertence a uma cena, de modo que existem sempre em grupos, dificultando a identificação de suas assinaturas. Dave Longstreth é um ser individual, não há dúvida. Ele tem lá suas influências mais perceptíveis, como Franco na maneira como toca e Björk na maneira como canta, mas é acima de tudo, uma personalidade, exercitada pelo artista e identificável pelo ouvinte. Apontar isso é importante antes de apontar uma frase dita por Longstreth na ocasião da gravação do sexto disco do Dirty Projectors, “Swing Lo Magellan”, em que afirmava estar compondo “um disco de canções”. O leitor provavelmente verá isso em diversos lugares como uma prova que esse seria um disco mais facilitador, porém, cabe completar que esse é “um disco de canções de Dave Longstreth”. E isso faz bastante diferença.

É claro, visto lado a lado com o radicalismo da estreia com “The Glad Fact”, o novo álbum pode parecer, de certo ponto, menos trabalhoso. Mas trata-se de um caminho natural, exposto claramente no certeiro “Bitte Orca”, momento em que o artista articulou com maior habilidade seu estilo multidirecional de cantar e compor. É essa a razão de parecer importante para ele pontuar sua maneira de fazer música, atualmente, com a expressão “album of songwriting”: foram discos sobre outros discos refeitos apenas pela lembrança (“Rise Above”), discos sobre a vida de outros músicos (“The Getty Adress”), mas depois de “Bitte Orca”, Longstreth se concentrou apenas em escrever canções.

O que, comprovadamente, ele faz como poucos. Numa das últimas frases do disco, Dave diz que “sem canções, a vida é longa, dura e sem sentido”, o que ilustra o empenho do rapaz para tornar a nossa vida menos deprimente. Existem duas faixas onde o empenho é apenas teórico, como se somente escrever canções fosse suficiente. E assim, Longstreth consegue, com a faixa título, entregar sua canção mais comportada, num modo bastante diferente do “bom comportamento” de uma “Stilness Is The Move”. “Gun Has No Trigger” também não tem nada para mostrar além de uma melodia acompanhável.

Como ser individual, era de esperar que Dave não parasse por aí. As melhores canções são as de assinatura, “Just For Chevron” e “Maybe That Was It”, principalmente, faixas habitantes desse mundo multi-gênero que existe como uma coisa só. Quando Amber Coffman surge sozinha em “The Socialites” e aquele R&B parece tão natural ao lado da psicodelia inglesa da segunda e guitarra congolesa da primeira, é como se, num plano imaginário, Longstreth fosse encaixando as peças de uma quebra-cabeça aparentemente insolúvel. Ele é bem sucedido por que tem habilidade (a tão temida técnica), é claro, mas principalmente porque é uma persona única. E é por isso que “Swing Lo Magellan” não é, como ele mesmo afirmou, apenas um disco de canções.