Kurt Vile: Wakin On A Pretty Daze

Alguma coisa em “Wakin On A Pretty Daze” parece estar dando a entender que o Kurt Vile versão 2013 é um artista mais ambicioso do que realmente é. Pode ser só pela duração das faixas, pela lista extensa de convidados, uma floreada eventual nos arranjos ou só por fotos de divulgação em que finalmente não aparece escondido atrás dos cabelos. Nenhum desses fatos retira a impressão de constância que se enxerga na carreira do compositor, reforçarda por seu novo disco. Mesmo nos rascunhos noisy de “Constant Hitmaker” (veja a ideia no título), é perceptível uma marca de composição, como se as faixas nascessem de um fiapo de acorde e fossem esticadas e esticadas e esticadas. Na primeira deste novo álbum, Vile diz “I live along a straight line”, definindo inconscientemente sua forma de fazer arte. Por enquanto, a receita está funcionando.

E funciona por certa confluência intelectual com suas inspirações mais reconhecíveis, notadamente Fleetwood Mac, Young, Springsteen e Dylan. A sua maneira de fazer e ver a música está perdida em alguma parte dos anos 70, mais precisamente entre o lançamento de “Harvest” e “Rumours”. Dito isto, é mais apropriado relacionar seu novo disco a uma visão mais conservadora do que ambiciosa. Claro que há possibilidade de ser conservador e ambicioso (e nos anos 70 há milhares de casos), porém não é o que acontece aqui: seu conservadorismo retém sua ambição. Ele trabalha mediante a um processo pouco mutável do qual ele vem extraindo todas as possibilidades.

Assim, “Wakin On A Pretty Daze” evolui diretamente de seu disco anterior, “Smoke Ring For My Halo”. Há somente uma alteração de humor, aqui: há um sentimento geral de relaxamento que contrasta com o álbum de 2011 (até mesmo comparando as duas artes da capa). Entretanto, como músico, Kurt Vile se mantém essencialmente o mesmo, embora realize aqui alguns dos seus melhores artesanatos melódicos. A primeira faixa, “Walkin On A Pretty Day”, é um exemplo, iniciando o disco com 9 minutos de classic rock quase soft trazendo os trejeitos usuais do compositor em sua melhor formatação.

Durante o disco, aparece uma ou outra tentativa tímida de variar o roteiro, como na ótima “Was All Talk” (que se mantém nos anos 70, mas próxima de Bowie). Porém, não custa repetir, Kurt Vile se sente melhor quando é conservador. Em “Too Hard” ele tenta repetir o que deu certo em “Baby’s Arms” (famosa por ser ter sido utilizada em comercial do Bank of America e, logo depois, gerar certa controvérsia por isso), dessa vez falando diretamente para sua filha. Já em “Goldstone” ele leva o conservadorismo para um nível mais pessoal no quase cômico verso “Sometimes when I get in my zone you’d think I was stoned/but I never, as they say, touch that stuff”.

Se o processo é pouco mutável, Kurt Vile corre o risco de, ao extrair todas as possibilidades, não encontrar mais nenhuma. Em “Wakin On a Pretty Daze”, há alguma repetição, mas o compositor consegue se livrar dos riscos com habilidade artesanal. Quando não conseguir, terá que fazer uso da ambição que alguns enxergam aqui mas que, de fato, não existe. Enquanto isso, Kurt Vile segue constante.