Mombojó: 11º Aniversário

“Não sei disso não”, foi o que disse Felipe S. quando lhe perguntei sobre um suposto sumiço de sua banda (leia a entrevista aqui). A desconfiança de Felipe com a minha questão é a mesma que muita gente passou a ter para com a banda. Daqueles que embarcaram nas porradas e na onda do primeiro álbum, “Nadadenovo”, alguns não souberam mais como encontrar o Mombojó. Até a própria banda teve que ir se encontrando ao longo do caminho que passa por “Homem-Espuma” e “Amigo do Tempo”, segundo e terceiro álbuns da banda. Não à toa, no espírito dessa (não) busca, “Procure Saber” emerge provocativa como única faixa inedita e single de “11º Aniversário” (leia a crítica da faixa aqui).

A verdade é que a dor não está de fato em nós, como sugere “Vazio e Momento” que, em 2013, funciona como abertura vibrante de “11º Aniversário” (em 2006, era a penúltima faixa de “Homem-Espuma”). Essa apreensão está em qualquer outro lugar, menos no palco, no estúdio. Ao vivo ou gravando, a banda está em um momento único. Mas poucas pessoas estão se ligando nisso. Os quase 70 mil ouvintes do primeiro álbum no Last.fm, por exemplo, se converteram em apenas 8 mil de “Homem-Espuma” e 5 mil e pouco de “Amigo do Tempo”, o álbum mais consistente da banda.

“11º Aniversário” revisita canções dos três álbuns e, mais do que isso, reafirma a discografia da banda. Ela é, ainda, a única que pode se orgulhar de ter saído dos cadernos culturais que insistiam nas comparações com Los Hermanos e ter resultado em um rumo artístico de discos ímpares perto de todos os outros artistas egressos da mesma data. Esse fato ganha ainda mais importância se lembrarmos a baixa média de idade dos integrantes. À época de “Nadadenovo”, em 2004, Felipe tinha 17 anos; Vicente, na bateria, 14. Nenhuma outra banda conseguiu sair com a discografia ilesa do hype pós-hermaníaco. Movéis Coloniais é distração afetada, Teatro Mágico insuportavelmente água com açúcar.

Por isso, “11º Aniversário” é um mal necessário como resposta aqueles que talvez enderecem críticas à banda por tão precocemente recorrer ao expediente das regravações. O fato é também dinheiro, neguinho. E, ainda assim, há nesse quarto álbum do Mombojó uma qualidade extraordinária. Primeiro em reviver Felipe como vocalista. Ao se escorar na enormidade de efeitos que irradiam dos teclados de  Chiquinho e das suas próprias buscas, Felipe reafirma sua voz como instrumento (algo feito com consistência, no estúdio e ao vivo, somente em cima de “Amigo do Tempo”). E o resultado é ótimo.

Em “Saborsosa”, o primeiro minuto é indecifrável sobre as direções de “11º Aniversário”. Até que surge o refrão e o upbeat entre os versos e, principalmente, o riff que sai da boca de Felipe apoiado pela guitarra de Marcelo Machado e que flerta diretamente com qualquer b-side da disco music. E no tchutchurutchu ela vai até seu final. “Amigo do Tempo” também é dessas. Aqui, a impressão é de que a já bonita música, que dava título ao terceiro álbum, encontrou, de vez, sua versão final. Chiquinho é rei demais nessa música. Dos convidados de “11º Aniversário”, alguns cumprem funções burocráticas. China e seu irmão Ximarú são dados históricos em “Estático” (China se tornou um grande parceiro da banda e os riffs de Ximarú inspiraram boa parte dos moleques). Mas fica nisso. A versão não é torta em sua compreensão como ela se apresenta em relação à versão original presente no debute da banda. É apenas cheio de artifícios cansativos. Cannibal, ex-Devotos, e Igor Medeiros levam, respectivamente, à “Realismo Convicente” e à “Faaca” algo que talvez não seja o que era realmente preciso, mas é perto daquilo ali que a solução está.

Vitor Araújo se sobressai a todos com a sua participação em “Baú”. Acrescenta-se como um verdadeiro integrante da banda. A versão pueril do primeiro álbum é, agora, definitiva e cortante. Quando Felipe diz “me falta alguém / falta alguém trazer / prazer” a inocência se foi. A faixa agora é brutal. Com produção de Rodrigo Sanchez (com quem Felipe e Machado produziram o álbum de estreia de A Banda de Jouseph Tourton), “11º Aniversário”, é um prólogo de uma possível retomada por parte do Mombojó do protagonismo de uma cena que é conduzida majoritariamente pela maior banda de rock dos últimos 25 anos, a Nação Zumbi — encarregada de fechar o álbum com “Justamente”.

O grande mérito de “11º Aniversário” é a seleção refinada e a cabeça no lugar dos integrantes na hora de montar o repertório final. E isso ressalta a importância de cada parte da formação atual da banda. Inclusive o de Samuel, baixista, agora mais um a deixar a banda e mais um que sai deixando um DNA exposto claramente na discografia da banda. Talvez, por isso, “Deixe-se Acreditar” é a grande faixa que soa menor do álbum: o hit da banda é desnecessariamente uma espécie de reprise em “11º Aniversário”. Como álbum, o quarto do Mombojó é uma peça menos interessante que “Amigo do Tempo” por estar mais distante da surpresa. Mas é uma peça que surge como aviso aos desavisados de que uma banda com algo a mais do que boa vontade está para chegar. Talvez ela nunca tenha sumido, mas o Mombojó precisa chegar novamente.