Peaking Lights | Lucifer

Peaking Lights

Lucifer

[Domino; 2012]

6.4

ENCONTRE: iTunes

por César Márcio; 22/06/2012

Não é preciso pontuar suas óbvias diferenças, mas existe um movimento interessante entre essas bandas americanas não muito habituadas com as estruturas rígidas da canção moderna em direção a padrões menos herméticos. De Dirty Projectors a Gang Gang Dance, de Black Dice a Animal Collective, diversos artistas antes classificados apenas como participantes de uma “cena experimental” conheceram plateias maiores depois de apresentarem ao mundo os seus trabalhos “focados”. Com o duo Peaking Lights, o movimento veio mais cedo do que o esperado: dois anos após a ruidosa estreia em cassete “Imaginary Falcons” e um ano depois do bem-sucedido “936”, o casal Indra Dunis e Aaron Coyes já mostra sua versão família em terceiro disco curiosamente intitulado como “Lucifer”.

Nada demoníaco, o álbum encontra a dupla num momento pessoal que, aparentemente, amenizou o ímpeto aventureiro dos dois: “Lucifer” é o primeiro disco lançado após contrato com a Domino e o nascimento do primogênito do casal, Mikko. Mesmo menos interessados em descobrir, a dupla soube utilizar o momento de calmaria a seu favor, tanto para a construção de estruturas mais amigáveis (extensas o suficiente para resvalar na pieguice em “LO HI”, o dubzinho infantil ornado com o choro do menino Mikko) quanto para revisitar com mais paciência as paisagens de “936” (em “Cosmic Tide”, e principalmente, “Dream Beat”, a melhor faixa a captar esse conceito de foco, tão repetido quando se fala nesse disco).

Outro conceito repetido é que música assim, com essas inspirações e com essa tendência a levitação seria música para ser acompanhada por drogas (e aí não importa se é ouvinte ou o artista). Em “936”, com os elementos de “Lucifer” sem foco, eles simplesmente andavam por aí, num ponto em que se mostravam mais vibrantes, encorpados e intocáveis. Com foco, coisas bonitinhas como “Beautiful Son” e “Like Love” aproximam mais o Peaking Lights do bom comportamento de um Beach House do que do Mad Professor.

É, de certa forma, compreensível que o Peaking Lights procure uma forma de atingir um público maior com seu primeiro disco por um selo grande. E em “Lucifer” existe um caminho sustentável nesse sentido, principalmente quando Coyes não se utiliza do dub apenas como um acessório moderno. Eles só esqueceram de lembrar que, para a música que eles fazem, foco não serve para nada.