Rhye: Woman

Tirem as crianças (do sofá) da sala, pois, como diria um cara que sabe sobre sensualidades, let’s get it on. Na verdade, vamos, vamos sim, mas, não, vamos com calma, suave. Porque é isso que “Woman”, primeiro disco do misterioso duo Rhye, propõe: as preliminares como fim, como objetivo ulterior. E quem se dispor a se perder no tempo, tantas vezes concebido como perdido, que antecede o suposto crucial, vai considerar que – tanto na vida real como em “Woman” – a carícia é tão ou mais importante que o orgasmo.

“Woman” é um ensaio sonoro sobre a preliminar: o disco definitivo do sofá. Não é estudo, pois não se propõe academicismos, não é difícil, não faz joguinho, mas sabe brincar com essa coisa de mostrar e esconder. Não à toa, uma névoa de mistério cobria o Rhye quando suas primeiras faixas surgiram, mais ou menos um ano atrás. Não se sabia quem estava por daquela produção cuidadosa, sem afetação e afetuosa, ou tampouco de quem era aquela impressionante voz, mais feminina em suas características e potencialidades impossível. Não sabíamos quantos seriam, se um ou uma, vários ou poucas. Nesse jogo de exibir e omitir, Rhye foi se mantendo, cozinhando seu potencial público em banho-maria, pois o que de fato importava estava lá, entregue e disponível.

Com o lançamento de “Woman”, como se fosse um passo a mais num relacionamento, mais foi contado, conhecido. E textos e mais textos foram escritos, impressionados com os integrantes e seus gêneros, em como a música do duo soava extremamente feminina – como o próprio título do disco gosta de brincar, mais escondendo do que mostrando. Eu poderia aqui discorrer sobre como tudo isso é surpreendente, que não é todo dia que vemos homens fazendo música que o senso comum consideraria feminina – e não o oposto. Mas a verdade é que, diante de “Woman”, pouco disso é realmente importante, sendo a maior parte disso tudo nada mais que marketing – e dos bons.

Por sorte, o que há em “Woman” é uma das mais deliciosas músicas lançadas nos últimos anos. Com suavidade, graça, serenidade, o duo consegue fazer um disco difícil para a nossa época: onde os tempos são suspensos por pequenos instantes, num equilíbrio complexo entre a intensidade e a delicadeza, entre o pop acessível e o sofisticado. Tanto no marketing quanto na música, o Rhye prova sem muita discussão como são bons na arte das preliminares: ir com cautela, aproveitando cada instante, realçando e acobertando. O objetivo no aqui e ao mesmo tempo no instante logo após.