Spiritualized | Sweet Heart Sweet Light

Spiritualized

Sweet Heart Sweet Light

[Domino Records; 2012]

6.4

ENCONTRE: iTunes

por Livio Vilela; 17/04/2012

Tal qual Flaming Lips e Mercury Rev do lado de cá do Atlântico, Jason Pierce passou os últimos 15 anos ancorado pelo peso de sua obra-prima. “Ladies And Gentlemen We’re Floating In Space” é um daqueles álbuns que nasceram para ser considerado “clássico”, naquele estilo “maior que a vida” que só as grandes obras psicodélicas consegue dar conta. Seus lançamentos desde de então tem usado o álbum como ponto de partida, seja em movimentos de expansão (“Let It Come Down”) quanto retração (“Amazing Grace”). “Songs In A&E”, no entanto, não era exatamente um produto derivado de “Ladies And Gentlemen”, mas um que usava as mesmas dinâmicas aplicadas a um novo tema. Em vez do espaço, a variável, ali, era o tempo, o passado. “Senhoras e senhores estamos flutuando no tempo”, ou algo parecido. O som de Pierce sempre bebeu de fontes puras como o gospel, o blues ou os primórdios do rock, mas pela primeira vez essas influências apareciam sem a névoa narco-espacial que pairava sobre os outros discos do Spiritualized. Era como se depois uma experiência de quase-morte, o homem do espaço finalmente tinha aterrissado.

4 anos depois de “Songs In A&E” e com uma turnê bem sucedida tocando seu disco mais famoso nas costas, Jason Pierce se encontra no mesmo lugar em que o deixamos em 2008: buscando no passado a redenção para os seus erros presentes e tentando encontrar o sentido da vida no meio da encruzilhada. “Sweet Heart Sweet Light” parece ter sido planejado como uma versão mais bem editada de “A&E”, o que, idealmente, seria algo bem interessante, já que os excessos daquele álbum são uma das poucas coisas que o puxam para baixo. 11 faixas e quase 50 minutos depois, a história é um pouco diferente do que gostaríamos de acreditar.

“Sweet Heart Sweet Light” não é exatamente um trabalho ruim, mas (sempre tem um “mas” nesses casos) é apenas menos memorável que seus antecessores. Isso em boa parte é fruto de uma fixação de Pierce com uma parte da vida dele que nós supostamente já vimos com mais detalhes. Mesmo que haja novas nuances nesse álbum, é inegável que o Spiritualized já fez mais usando a mesma fórmula – “Soul On Fire”, “You Lie You Cheat”, “Baby I’m Just A Fool”, cada uma, são melhores que todas as 11 juntas.

Os dois únicos grandes momentos estão na abertura e no fechamento do disco, “Hey Jane” (meio Bruce Springsteen gravando Velvet Underground) numa ponta e “So Long You Pretty Thing” (“Everybody Hurts” em primeira pessoa e resolução “full HD”) na outra. O que há entre as duas é um misto de quase-canções (“I Am What I Am”) e músicas que poderiam ser descritas como “tipo Spiritualized”, ou seja, cheias de coros, chiados de guitarra, dedilhados de piano e a voz cada vez mais fraca de Pierce. Há ainda algumas versões de uma mesma balada, das quais “Life Is A Problem” (kudos pelo título) é a melhor delas.

Não parece do feitio de Pierce querer dar um cavalo-de-pau em sua carreira nesse estágio da vida como fizeram os Lips em “Embryonic” ou, com menos sucesso, o Mercury Rev em “Snowflake Midnight” anos atrás. Mas também não parece do feitio dele se sentar confortavelmente sobre seus louros como acontece em “Sweet Heart Sweet Light”. Para alguém que cantava “Babeeeee, you set my soul on fire” há tão pouco, este é um álbum com bem menos alma do que deveria.