The Shins | Port of Morrow

The Shins

Port of Morrow

[Columbia Records; 2012]

8.9 FITA RECOMENDA

ENCONTRE: Site Oficial

por João Oliveira; 28/03/2012

Este é o disco em que os Shins assinam com uma grande gravadora (alô R.E.M., Nirvana, etc) e vão atrás das massas, da fama, dos hits e da grana. Talvez uns 12 ou 15 anos atrás ainda se poderia começar uma resenha assim, porém num cenário de hiper fragmentação do público como o de 2012, fica difícil definir o que seria o protótipo de uma banda de rock bem-sucedida do lado oposto ao Coldplay ou até de uma Adele. A grana e a fama podem ter minguado bastante na última década, mas o desejo daquele refrão pegajoso e daquela canção popular (e/ou populista) parece estar mais vivo do que nunca. Pelo menos para James Mercer, líder dessa pequena grande – e brilhante – banda. E nesse mundo pop imaginário que não existe mais – ao menos não como no passado -, Mercer inventa seu interessante universo de hits radiofônicos de uma rádio faz-de-conta em que ele é o DJ. É como se falasse: “É isso que eu gostaria de estar ouvindo”.

Falar em James Mercer e não propriamente da banda como um coletivo é o mais apropriado. Isso porque os Shins sempre pareceram ser o veículo e o produto da ambição criativa de Mercer. Aqui, neste “Port of Morrow”, temos certeza disso, já que seus antigos companheiros foram substituídos por uma trupe de quatro músicos mais jovens, e eles ganham até seu momento para brilhar na bela faixa-título que fecha o álbum.

Agora, falando do que interessa, “Port of Morrow”, como já dei a dica, é um disco basicamente pop, mais precisamente de uma alternância entre power pop e pseudo-baladas. A banda soa aqui como um Big Star com mais punch e Mercer faz as vezes de um primo mais talentoso de Matthew Sweet, pra ficarmos numa analogia fácil. Nesse aspecto, é bem parecido com talvez o melhor trabalho da banda, “Chutes Too Narrow”, mas com duas diferenças básicas: a estrutura das canções e a produção. A produção carregada e espaçosa assinada por Mercer e Greg Kurstin já fica evidente no primeiro e sensacional single “Simple Song”, com seus vocais duplicados, o grave da bateria estourado e seus backing vocals de catedral. Isso muitas vezes sai mal, como um blockbuster que é só efeito especial e nada de história, mas a produção acaba favorecendo essa nova forma de compor de Mercer. Em vez das melodias que serpenteiam sem refrões aparentes e daquelas que “queimam” devagar para explodirem calmamente no final (“Phantom Limb”), ele dessa vez escreveu um disco pra cantar junto, tendo todas as faixas seu gancho marcante.

Outra mudança aqui, sugerida apenas de leve no álbum anterior, é que a banda deixa um pouco de lado seus classicismos característicos e investe em batidas mais “modernas” – em “Bait and Switch”, “No Way Down” -, o que acaba sendo uma surpresa pra quem escuta essa nova fase do grupo. Mesmo com as variações sonoras – reparem na elegância do semi-bolero de “September” – o grande valor dos Shins continua sendo a atenção cuidadosa de Mercer pelos detalhes e seu gosto pelo contraste, lapidando canções agridoces nas melodias mais agradáveis do mundo.

Resumindo e sem alongar demais: “Port of Morrow” é um belo de um trabalho, e acaba sendo o álbum mais imediato de uma banda que costumava nos ganhar aos poucos, pelas beiradas. Se estranheza e “criatividade” aleatória são a sua praia, talvez não haja muito o que os Shins possam fazer para agradar. No entanto, “Port of Morrow” é uma boa porta de entrada para esse universo pop singular que Mercer criou e um ótimo quarto capítulo para os fãs que o vêm esperando há cinco anos. Pode ter demorado, mas ele sempre nos recompensa pela espera e por aquela audição a mais.