Thiaguinho, o predestinado, rompeu as barreiras das AMs e FMs dos elevadores em um tapa na cara de um reality show que misturava Big Brother Brasil com American Idol. A cada semana, Thiaguinho era colocado no paredão do finado programa “Fama”, da TV Globo. A audiência até simpatizava com o pretinho carismático que, pagodeiro, escorregava a cada audição na escolha do repertório incomum ao seu gênero predileto. Vamos dar um fast foward bem fast mesmo: Thiaguinho foi um dos responsáveis pela guinada do Exaltasamba, vendeu milhões de discos, emplacou algumas gírias na música popular (“pagodjé”, “ousadia & alegria”), virou estrela de programa ruim da Globo e, claro, fez carreira solo.

Thiaguinho, o sexy, impreguinou o cancioneiro de canções safadas. Em um primeiro momento, era Wando, Jorge Ben e Leandro Lehart em um único compositor. Claro: as apostas em um mashup desse seriam altas. E foi. O Exaltasamba lançou um álbum megalomaníaco no Parque Antárctica pela Som Livre, vendeu adoidado e, bem como seu parceiro mais gordinho do grupo, rumou para o estrelato solitário (e como frisamos aqui, em uma estratégia que deixava bem claro quem era o gordinho simpático e o pretinho sensual).

Thiaguinho, o indeciso, segue pra onde onariz de sua esposa Fernanda Souza aponta. Porquanto cirurgicamente operado, esse destino de Thiaguinho é errante ou simplesmente falsificado. Em seu debute verdadeiramente solo (antes houve o péssimo DVD “Ousadia e Alegria”), o ex-exalta é um produto ultrapassado não por um concorrente, mas decepcionante por si mesmo — um Thiaguinho que já existiu. Todos os passos seguidos em “Outro Dia, Outra História” já foram feitos com muito mais sofisticação e sacanagem nos registros recentes do Exaltasamba.

Thiaguinho, o global, gravou em seu DVD o hit da era Trama “Simples Desejo”, composição de Daniel Carlomagno e Jairzinho Oliveira e sucesso do ano 2000 na voz de Luciana Melo.  A medonha gravação conta com Gilberto Gil envolto em palmas falsas, idolatria exagerada. Não serviu de lição. Agora, Lulu Santos surge na faixa-título em papel tão constrangedor quanto. É uma espécie de reunião do que se tornou a sigla MPB: destinada a velhos talentos porém tão decadentes quanto os “novos” talentos envoltos em jabás para tocar em rádios e programas de auditórios tão ruins quanto esse tipo de produção “samba-Disney” que Thiaguinho insiste desde o bom single “Buquê de Flores”. Aliás, não posso deixar passar: “Sem Você a Vida é Tão Sem Graça” é um plágio desnecessário da canção que cito no começo desse parágrafo. Que vibe, hein, plagiar hit da MPB FM/Nova Brasil FM dos anos 2000 (é bom lembrar que Thiaguinho é da geração de pop-pagodeiros e pop-sertanejos que idolatram mais Djavan do que Almir Guineto ou Zezé Di Camargo).

Thiaguinho, o pré-adolescente, entoa em “Outro Dia, Outra História” canções que sugerem farra, carpe diem, diversão e balada (a boa “Caraca, Muleke!” e “Botando pra Quebrar”, com início em funk mais branco ruim de todos os tempos). Mas quando chega em casa ou mesmo em uma entrevista, Thiaguinho é tímido tal qual um baderneiro sem seu grupo da sétima série. Fala manso, é católico, quer casar. Thiaguinho é um dos maiores erros da música pop brasileira da atualidade se pensarmos em tudo o que ele e sua trupe anterior cravaram na MPB-que-toca-em-alto-falante-de-carro. Thiaguinho já foi predestinado, sexy, futuro grande ícone. Hoje, nessa indecisão, ruma ao estrelato de um “Arquivo Confidencial” em um domingo decadente da televisão (e com comentários de Preta Gil, Naldo, Anitta e Carolina Dieckmann).

“Outro Dia, Outra História” é um registro que expõe cada vez mais como o pagode do finalzinho da década de 90 trouxe grandes letristas e compositores muito acima da média dos que surgiram no vácuo de todo o sucesso de uma geração. Ao mesmo tempo, todos os grandes discos desse gênero são registros que foram produzidos de forma medíocre (vide “Refém do Coração”, do Soweto). Ainda assim, soam muito mais próximos de seus objetivos e ainda sinceros que qualquer coisa superproduzida de Thiaguinho.