“Dirty Gold” não é um álbum independente, mas foi a própria Angel Haze quem o colocou disponível para audição na internet. Junto com uma série de impropérios direcionados à Island e a Republic Records — responsáveis por agendarem o álbum quase para o fim do primeiro trimestre de 2014 –, o álbum chegava na íntegra ao Soundcloud logo depois da ressaca de Natal e antes dos estourar de rolhas do réveillon. Assim disse Angel Haze: “JUST MAY LEARN TO KEEP YOUR FUCKING WORD”. Em caixa alta mesmo.

Infelizmente, essas são as melhores linhas que o autor do release (houvesse um) poderia escrever no lançamento de “Dirty Gold”. O que o álbum mais oferece ao ouvinte é a qualidade extraordinária das gravações anteriores da artista de apenas 21 anos. Um ano atrás, o EP “Reservation” trazia uma artista que deixava em dúvida o quanto era bruta ou material fino; o quanto era hip-hop ou o quanto circularia pelos gêneros urbanos londrinos — como o grime. Foi assim também com “New York EP” (que continha a fenomenal “Werkin’ Girls”) e com sua versão de “Cleanin’ Out My Closet” (de Eminem, originalmente) na qual deixava claro seus pesadelos com todas as vezes em que foi violentada sexualmente.

Em “Dirty Gold”, Haze é 2012 — para os mais pessimistas, novembro de 2011. Um desperdício que se inicia com tentativas desesperadas de soar rebelde no meio do furacão do mainstream de Nicki Minaj e Rihanna. É nesse ponto que o álbum acaba deixando claro para os incautos quão boa liricista Haze é. Na ausência de uma produção cativante, a rapper de Detroit revela-se a quem prestou pouca atenção nos anos de 2011 e 2012. O single “Echelon (It’s My Way)”, “White Lillies/White Lies” e conseguem, aos 45 do segundo, fugir do requeijão produzido por Markus Dravs (responsável, mais recentemente, por “Viva la Vida or Death and All His Friends”, álbum-guinada do Coldplay). Mas é pouco. Há ainda alguma coisa em “A Tribe Called Red”. Mas o que vem depois é uma sucessão de pastiche vindos diretos de álbuns que conseguiram resultados muito mais interessantes há pouco tempo ao extrapolarem as fronteiras do hip-hop mainstream da segunda década deste século (principalmente “Yeezus”, de Kanye West, e “Government Plates”, do Death Grips).

Se o objetivo de “Dirty Gold” era chamar a atenção para a discografia anterior (despretensiosa e dispersa) de Angel Haze, conseguiu. De quebra, deixou todo mundo com vontade de que o segundo álbum chegue logo para que esqueçamos toda as besteiras aqui executadas por uma artista brilhante. Em 2012, “But I’ll be running that shit like a motherfuckin’ tracker”. JUST MAY LEARN TO KEEP YOUR FUCKING WORD, Angel Haze. Obrigado.