“Me pede beijo, desejo / Não vou beijar”. “Não jogue ideia pra mim / Beijo tu manda pra Xuxa”. “Não toque no meu cabelo, você não é escova”. “Te faço de palhaço para dominar”, “Até você vai ficar ba-ban-do”. Em sua meia-dúzia de músicas até aqui, a jovem Larissa de Macedo construiu uma personagem bastante incomum no cenário do pop brasileiro. Sob o nome de Anitta (nome, sim, retirado da minissérie da TV Globo), a menina se vestiu de mulher poderosa, calculista e vingativa – uma Rainha de Gelo num país que, apesar de ser também o das cantoras, às vezes parece aprisonado pelo estigma da Amélia.

Assim, é estranho ver Anitta dizendo coisas como “Eu to querendo / Louca / Tonta / Doida pra te ter”. Não que baixar a guarda seja uma atitude condenável para ela (nem para ninguém), o problema é que ela faz isso com os dois pés atrás, como quem aprende educação emocional em livro de auto-ajuda. “Mas se tu não quiser, eu quero menos ainda / Se fizer pouco caso, eu quero menos ainda”, ela manda no refrão. Para alguém sempre tão segura, ela parece pela primeira vez, se não covarde, pelo menos impotente, condicionando seu poder e seu destino à vontade de outros. A fragilidade reflete na música em si, uma versão anêmica do que veio antes, soando como mais como uma demo adornada (meio “Kelly Rowland produzida por Latino”) do que uma gravação final. Sem falar, é claro, no “bang bang” clichê que abre e fecha a música. Para uma garota que cravou “eu sempre digo não” a não muito tempo atrás, “Tá Na Mira” é um talvez para lá de desanimador.