João Lucas & Marcelo | Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha

João Lucas & Marcelo

Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha

[Independente; 2012]

 3 

ENCONTRE: Site oficial

por Yuri de Castro; 08/03/2012

Antes que o sono leve embora a embriaguez e também todo o ridículo de “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha” — hit de João Lucas e Marcelo que começa a estourar nas rádios populares do país –, justifiquemos com ela a nossa ausência para com o rumo que este gênero tomou depois de seu auge comercial.

Antes de ser filha de Neymar, “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha” é um pastiche de hits mais interessantes desse recente filão da música pop brasileira. É claro: todas nascem de “Chora, Me Liga”; mas é somente com o breve esgotamento radiofônico das principais duplas em meados de 2010/2011 que é dada a largada rumo ao que há de mais consistente no insconsciente coletivo.

Neymar grava clipe de “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha”

A maior de todas elas é “Balada”, de Gusttavo Lima (também “lançada” por Neymar). As primeiras batidas na introdução da música não voltam mais no resto da canção, mas era um anúncio. Vieram então, por exemplo, as ótimas “Zuar e Beber” (originalmente famosa na interpretação de Henrique & Diego e regravada tardiamente por Leonardo) e “Tá Tarada” (gravada por Renê e Ronaldo, entre outras duplas) e também coisas horrorosas como “Motel Disfaçado” (famosa nas vozes de Humberto & Ronaldo) ou “Vem Ni Mim Dodge Ram” (que tem um dos registros com Israel Novaes divindido os vocais com Gusttavo Lima). Mais recentemente, a jóia é a bobeira lírica de “Bará Berê”, do Cristiano Araújo – cantor que mais parece um mashup do bom e do ruim vindo de Luan Santana e Gusttavo Lima.

Com todas essas abrindo caminho para o que há de pior em composição popular, ficou fácil para “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha”. Aqui, ao contrário das citadas acima, não há nem o mínimo mistério para esconder o jogo da música nos primeiros minutos. A música já vai pro refrão, cita Neymar, a batida de funk  chega, vira bagunça e não demora muito para a auto-referência à dupla aparecer na letra. Pra quem não se ligou, o “tchu” e o “tcha” remetem à batida do funk carioca que, a partir de 2005, tornou febre as bases feitas não com batidas eletrônicas, mas com a voz humana — algo perto do tum-tcha-tcha-tcha-tum-tum-tcha.

E, olha, até que os boleiros demoraram a errar. Dos pedidos inúteis de música gospel e pagodes subterrâneos nos gols dos Fantástico, finalmente voltaram-se para o funk (principalmente no Rio) e para o axé (principalmente em São Paulo, por causa de Neymar, André, Ganso e Madson). Daí, chegaram em “Ai, Se Eu Te Pego”, auge da parceria.

Por ora, não é preciso muito esforço para chutar “Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha. Aos haters, um alento: já é um sinal de fraqueza deste ritmo que ainda enlouquece qualquer casal de namorados em baladas Brasil afora e que tem deixado contente um bando de empresários e produtores antes quase falidos.

Paula Fernandes, Luan Santana, Fernando & Sorocaba, Jorge & Mateus e Victor & Léo seguem, de alguma forma, mais independentes da maré. Desses você não vai fugir não. Mas, tal como foi com o pagode no início do século XXI, já é possível começar a separar o que a abertura comercial gera como lixo.

João Lucas e Marcelo se surpreenderam com o sucesso que a música teve no carnaval carioca. Não deveriam. Anárquico, inclusive na qualidade, a festa de rua do Rio de Jaeiro não poderia ser mais óbvio. Já que micaretizaram tudo, esse é o processo completo de apreensão. Aliás, vale lembrar também que Marcelo é compositor de bobeiras de grandes como Lágrimas (gravada por Victor & Léo) e Incondicional (último single de Luan Santana).

De qualquer maneira, no placar geral do chorume, até que Neymar está com crédito.