O maior problema do primeiro EP da carioca Mahmundi era, para mim, o fato das letras e melodias estarem numa estação, enquanto a produção estava em outra. Mahmundi cantava sobre “o sol que deixa a pele morena”, “o calor do amor”, um “mar de amar” acompanhadas de bases invernais e com sua voz debaixo do vento frio projetado pelo parceiro Lucas de Paiva. O talento inegável de Marcela como compositora se rendia a uma estranha necessidade de fazer as músicas soarem como 2012, ao invés de algo que soasse mais natural, mais quente. Pode-se se argumentar que o paradoxo apresentado em “Efeito Das Cores” tenha sido proposital, mas se tiver sido, foi para lá de mal executado.

Um ano após aquela primeira leva de canções, Marcela anuncia uma nova fase com “Vem”, primeiro single de um álbum previsto para o segundo semestre. Ao invés da pena de pavão que adornava a capa de “Efeito Das Cores”, os tons aqui são sóbrios, outonais e reflexivos. “Vem” é, então, menos Arpoador e mais Alto da Boavista, o que curiosamente parece um ambiente mais confortável para música de Mahmundi. Mesmo que a batida balear e os synths afiados de Lucas beirem o exagero, a voz de Marcela mantém tudo num mesmo plano, trazendo uma serenidade e uma segurança incomum ao seu trabalho até aqui. (“Selah”, o termo bíblico usado como apêndice ao nome da música, fala exatamente disso). Ao lado de “Desaguar” – por acaso outra faixa nomeada por um verbo de ação direto – “Vem” é um dos poucos momentos até aqui em que Marcela consegue alinhar o que ela quer fazer, com o que a música pede, e o resultado não podia melhor e mais caloroso.