Mauro Motoki | Grandes Esperanças

Mauro Motoki

Grandes Esperanças

[Independente; 2012]

6

ENCONTRE: Site oficial

por Yuri de Castro; 16/04/2012

A linha geral de “Bom Retiro”, estreia solo de Mauro Motoki, é clara e, portanto, pouco desastrosa com seus pares indies do Brasil. O que é lastimável. Seu equilíbrio em relação ao meio traz poucos desafios às idéias nem tão óbvias escritas no álbum.

“Grandes Esperanças” é uma das vítimas. Ainda que seja sem querer, o que não creio, Motoki assume nas letras desta faixa o que, no pop-rock do Brasil, só fora feito por algumas mulheres. Mauro não chega a igualar a insegurança em forma de ataque de “Me Adora”, de Pitty, uma vez que esta canção é típica do pensamento adolescente masculino quando derrotado nos primeiros planos de um romance. Mas iguala a ironia do abandono presente na obra oitentista de Rita Lee, por exemplo.

O que torna tudo ainda mais doloroso de se descrever: a faixa em momento algum valoriza a letra de Mauro que, chutando latas e cabisbaixo, repete deliciosamente que “não é tudo que há na vida essa história de amor; [essa história de amor] é algo que, pra mim, já era. É algo que já foi. Se é pra’cabar em despedida, em tanto drama e dor, prefiro nem dar oi”.

Ainda que os versos antes da primeira aparição do refrão deixem os que estão pós-estribilhos nadando nas coxas da canção, “Grandes Esperanças” é um bom exemplo do que seria uma peça (minimamente) executável caso o que se convém chamar de indie-rock brasileiro fosse amplificado pelas FMs. Como não é, a frustração é ainda maior: afinal, qual é o papel desta canção fora seguir seu curso pronto ao desconhecimento? Ainda que fosse em direção ao desconhecido… Mas não. Que alguém daqui a 20 anos descubra essa faixa e a torne um objeto cult, como fazem os jovens de agora ao revigorarem peças que chamam a atenção não pelo todo, mas sim por uma parte excepcional. “Grandes Esperanças” tem essa parte. Mas, por enquanto, é uma peça de 2012. Pior: já parece ser apenas do primeiro semestre de 2012. Uma pena.