Quando Clemens Rehbein propõe a voz que se torna uma das características do Milky Chance, é possível que o ouvinte se embaralhe um tanto. Ora de garganta rasgada ou ora bobmarleiando, Rehbein aproveita-se bem de um zeitgeist da música pop. É tão esperto que chega a dar desconfiança e vontade de não gostar.

Em um mundo pop onde Bon Iver pode encantar os fãs de Jack Johnson (ainda que a recíproca seja preconceituosamente não verdadeira), os alemães do Milky Chance resolveram logo a questão. Cantando na maioria das vezes por sobre a marcação do bumbo controlado pelo parceiro Philipp Dausch, Rehbein vale-se de tudo o que a dupla da comparação no início do parágrafo entrega ao pop contemporâneo. De Iver, a dupla da cidade alemã de Kassel traz o tom folk e um eletrônico que parece sempre em uma briga entre sua condição original e orgânico; de Johnson, a facilidade de embarcar em qualquer tema sem que esses passem a ser empencilhos para a construção musical.

De fato, no final, o praiano fica bem atrás da impressão folk-indie, lo-fi. No entanto, não deixa de ser marcante que tudo aqui soe perfeitamente pop, como se a música popular já estivesse em condições de enraizar Bon Iver e companhia que fizeram as grandes canções do mundo alternativo nos últimos anos. Basicamente, é tudo isso que acontece no single óbvio “Stunner“, musicão que abre o álbum “Sadnecessary”, na junção de Blur com Beirut e o supracitado Iver em “Flashed Junk Mind” e, principalmente, no single “Stolen Dance”.