“Ninguém vai te escutar se não tem fé” diz a nova música d’O Rappa que é um resumo biográfico da carreira a qual tem início em 1994. Oficialmente, a banda continua viva. E este meu lamúrio encontra resistência dos fãs — o que é interessantíssimo.

A carreira d’O Rappa explicita como a colisão de música e engajamento pode ser tão legítima e também, contudo, perecível à medida que a força desse choque se arrefece centralmente e se expande universalmente. Deixarei, claro, para aprofundar essa relação logo o sucessor de “7 Vezes” seja lançado. Mas com “Anjos ‘Pra quem tem fé’” já é possível adiantar alguns pontos dessa banda que carregou um horda de odiadores medíocres e injustos por caminhar muito bem entre a comunicação de mainstream e a que enveredava já com alguma força via rádios comunitárias em muitos morros cariocas. Era uma das bandas mais legítimas da década de 90, de um vocalista de extremo carisma e personalidade vocal e de um compositor extremamente hábil em suas narrativas.

Os sete minutos de música são os mesmos que estão em “7 Vezes” e, em menor proporção, em “O Silêncio Q Precede O Esporro”, primeiro álbum após a saída de Marcelo Yuka. Mesmo sem o incrível baterista e, tecnicamente, líder da banda, a banda conseguiu um álbum em 2005 que é um primor de produção no pop-rock brasileiro — ainda pesem as arrastadas tentativas de Marcelo Falcão em soar líricamente urbano. Nunca tenham sido aprovados em uníssono pela crítica (mesmo com Yuka), mesmo assim, O Rappa se tornou a banda mais viável do mainstream. No entanto, depois de “O Silêncio…” se tornou pouco destra em seus diálogos com aqueles que a ouviam pelas ondas das rádios comunitárias. Antes, esta era uma relação de troca muito eficiente: a banda era pop, mas sabia entregar uma arte de identidade própria para quem nasce com opções de arte extremamente já voltadas para seu contexto (o funk carioca, o hip hop).

A partir de um ponto, essa troca passou a ser desequilibrada. Com fãs dando muito mais à banda do que recebia do grupo em forma de arte. Mas é pouco para uma banda que parecia fadada ao tiro curto dos anos 90 junto ao Cidade Negra nas tentativas de pop-reggae. O que a banda carioca faz hoje é um esboço de caricatura de si própria. Dá certo com os fãs que acham lindo postar “Pescador de Ilusões” como letra de bom dia no Facebook. E isso é medíocre para uma banda que, antes de tudo, parecia ser uma voz de verdade – e sem medo de errar.