Péricles | Amei

Não é “Gamei”, título de um grande sucesso do Exaltasamba. Mas é o mesmo cantor. Aliás, dizem, o maior cantor de samba do mundo¹. É Péricles cantando “Amei”, primeiro single após o segundo maior hiato da música pop brasileira neste início de século (o primeiro e tão oportuno quanto tinha sido realizado pelo Los Hermanos).

Um dos donos da marca Exaltasamba, Péricles é um poço de elegância. E não é só por causa de sua educação. É mercado. Citei o cantor no texto que fiz sobre o álbum de Michel Teló. Não foi à toa. O sucesso de Ai, Se Eu Te Pego é posterior a um fenômeno chamado Tá Vendo Aquela Lua, música que é feita de propósito e com propósitos (comercial e – também – estético). Esse mesmo propósito está na carreira solo de Péricles. Thiaguinho criou pra si um personagem chamado Pretinho do Poder. Em palavras mais sólidas, nada mais que um vocalista digno deste posto que atrai um sem número de fãs para o camarim (e para o depois do camarim). Péricles, por questões óbvias (vejam o propósito – o mercado) não seguiria por este caminho. Gordinho e nada sexy, a este vale sua voz e a parte menos animada do churrasco. Enxergar isso como demérito é apenas uma incapacidade sua. Isto, friso novamente, é mercado.

“Amei” parece clássico e, ao mesmo tempo, é um tanto genérica — típico samba que encerra bloco em rádio popular, quando o locutor aproveita para falar “taí, Péricles… que maravilha de música fechando mais um bloco do nosso programa”–. É filha da carreira de Jorge Aragão (mas composta por um dos seus parceiros de Exalta, Prateado) e, por extensão, filha de vários sucessos já imortalizados pelo próprio Péricles quando a dupla de frente era formada com Chrigor. A técnica aqui é perfeita, é tudo muito bonzinho. Tá faltando alguma coisa, mas parece acertada decisão de conter a #ousadia no momento. Mesma gravadora, dois filões: não dá pra disputar a mesma hashtag.

Os universitários dos cursos de publicidade e jornalismo leem Philip Kotler e seus milhões de ensinamento do marketing e, curiosamente, quando montam uma banda depois de uns baseados, erram sem pestanejar até em seus próprios nichos. É culpa de Kotler? Não. É culpa de quem insiste em não enxergar. Por causa do físico, Péricles pode até não enxergar algo. Mas alguém tá enxergando e vai lançando os singles principalmente no calor da despedida do Exalta. “Amei” não é lá um grande single, mas parece proposital nesse momento ser assim. Ao contrário do que insiste a massa média da intelectualidade musical brasileira, é sempre bom lembrar: não tem bobo no refrão brasileiro.

¹ Alcunha entoada pelo seu parceiro de palco, Thiaguinho, sempre que Péricles sai de trás do banjo para assumir sozinho os vocais de algum samba-canção do grupo.