Rodrigo Amarante | Maná

É provável que a polarização quando o assunto é a carreira-solo dos Los Hermanos seja fruto de um desejo, consciente ou não, que tanto Camelo ou Amarante ressurgissem como figuras unificadoras para a música brasileira, cuja arte – até aqui, extremamente pessoal e idiossincrática – tenha efeitos para além-música, como se fosse deles a responsabilidade de ser essa âncora, essa referência para um almejada nova “era de ouro” da ceninha. O que, se você for pensar bem, é a mais pura e completa bobagem, uma vez que por maior que tenha sido o impacto da banda na música dos últimos 15 anos, os Los Hermanos sempre fugiram dessa carapuça, até em seu momento de maior popularidade pós-“Anna Julia”, quando “O Vencedor” tocando na rádio e o sucesso da turnê do “Ventura” levou a banda novamente a coisas tipo “Domingão do Faustão”. Nenhum dos dois nunca teve vocação para Renato Russo, afinal.

Enquanto seu parceiro se enfiou cada vez mais nos seu próprio mundo e no seu novo amor, a fuga de Amarante foi sua tentativa de ganhar o mundo a sua maneira e achar uma nova turma pelo caminho. A estrada o levou ao Little Joy e à galera do Devendra, para quem a música brasileira era mais um ideal do que qualquer outra coisa. “Maná”, a primeira música do primeiro disco solo do ruivo, “Cavalo”, é reflexo dessa fuga e mudança de ares. Já circulando pela rede há alguns anos, a canção habita, assim, uma versão imaginada dos anos 70, cruzando Novos Baianos com George Harrison, “Ram” com Tom Zé. Como o Little Joy e as gravações de seus novos parceiros, “Maná” é uma canção suave, sem o peso, nem a pressão de agradar qualquer necessidade de outro, e é um tanto mais bonita por isso.

Ainda é cedo para prever o que será de “Cavalo” – as outras canções que apareceram por aí não são muito semelhantes entre si – mas uma coisa é certa: tão bom quanto é ter Amarante de volta, é perceber o quanto ele parece feliz com a sua arte, algo que nunca ficou muito claro durante os anos que os Los Hermanos estiveram juntos. O que ele e “Maná” nos diz é que às vezes fazer o que se quer pode ser o ato mais corajoso que existe.