Deep House em 5 passos: um guia sobre o filho introvertido da House Music

Porbonde-das-bonecasRicardo Sica*
Em colaboração para o Fita

 

Quando Nile Rodgers e seu Chic ensandeciam multidões com seus apelos de “Dance Dance Dance”, Idris Muhammad sugeria um outro tipo de dança mais espiritual que física. Mais técnica do que alegre. Sempre foi assim. Por mais de 20 anos, o funk sempre teve no soul uma metade inimista, profunda, séria. Frankie Knuckles sabia disso, claro. Por isso, quando no início dos anos 80, apelidava suas apresentações no Warehouse Club de Chicago (logo Chicago, a cidade da Soul Train) como a “reconstrução do Funk”. Patenteava, assim, o que o mundo posteriormente conheceria como House Music. Mas também abria espaço para o surgimento de sua resposta natural, sua outra dança.

A certidão de nascimento do Deep House é, por si só, um tratado sobre toda sua existência. Uma linha de baixo contínua, permeada por synths longos e solos de percussão e piano, marcada pela bateria simples de graves gordos (características da drum machine TR-808 desde muito antes do Kayne West aprender a falar) conduzida pela voz sussurrada de Robert Owens — é essencialmente tudo o que um Deep House pretende ser . A atmosfera introspectiva, sexy e, por vezes, até melancólica de Mistery of Love resume o ideal que permeia o gênero.

É claro que é mais fácil falar isso agora. Quando Larry Heard a.k.a. Mr. Fingers, antigo baterista de jazz e soul, começou a fazer experiências com a recém-lançada 808 e entregou um rolo de fita com o protótipo de sua recém criação a Ron Hardy (DJ residente do Warehouse naquele tempo, 1984) não imaginaria que o Deep House nas décadas seguintes abraçaria o soul, ganharia novas perspectivas e evoluiria com a tecnologia. Nem que conheceria o verão europeu e, por um curto período, reeditaria seu passado para se tornar o gênero de música eletrônica mais popular do planeta.

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Da esquerda pra direita: Larry Heard, Ron Hardy e Robert Owens, respectivamente o inventor, o primeiro DJ e o primeiro vocalista

01.OS 90s, NYC E O SOUL GOSPEL

Quase que paralelamente ao surgimento da House Music em Chicago, Larry Levan iniciou em Nova Iorque um movimento que ficou conhecido como House Garage, com influências da disco e cheio de riffs de piano e percussão. Seu equivalente deep era a Soulful House que, embora mantivesse a estrutura adicionou vocais de divas do jazz como KathyBrown.

Talvez o nome mais importante dessa cena seja Masters At Work.

Kenny Gonzales e Louie Vega, ambos músicos e filhos de músicos jazz consagrados, sempre foram muito ligados à música instrumental a ponto de formarem eles próprios uma banda, chamada Nuyorican Soul e gravarem com gente do porte de George Benson. Essa formação é presente também em seu soulfull/deep house a ponto de redefinirem o gênero e representarem toda a década de 90 da House nova iorquina. Como DJs, ganharam notoriedade fazendo festas de rua no Bronx e, em certo ponto, eram tão populares que recebiam encomendas de remixes até de Michael Jackson e Linda Clifford.

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Kenny “Dope” Gonzales e Lil Louie Vega: groove de peso (risos)

[SEGUNDA PARTE: OS ANOS 00s]