Entrevista: Ben Frost

O Festival Novas Frequências começou esta semana, no Rio de Janeiro, com sua já reconhecida excelência na programação que, neste ano, incluiu mais alguns grandes nomes da “música experimental” em seu insólito line-up, como Bill Orcut, Rashad Becker e Philip Jeck. Outra grande atração desta edição é a apresentação do australiano Ben Frost, tocando seu novo e impressionante “A U R O R A”, álbum que possivelmente estará em algumas dezenas de listas de melhores do ano em 2014. Logo ao chegar no Rio, Frost respondeu um rápido bate-bola sobre seu mais recente disco, suas expectativas sobre o Brasil e como foi trabalhar nestes últimos anos com os lendários Brian Eno e Michael Gira. Enquanto você lê a entrevista, corre na bilheteria do Oi Futuro Ipanema, porque ainda tem ingresso sobrando (e eles não costumam sobrar por muito tempo).

De certo modo, o Brasil é quase o oposto do que é a Islândia (onde Frost mora há mais de uma década). Fale sobre suas expectativas sobre o Brasil e sobre o que nós podemos esperar de sua apresentação atual?

Ben Frost: Eu não sei quase nada sobre os cariocas, eu nunca estive no Rio antes – então eu estou ansioso para saber como vai ser. Eu também estou ansioso para passar alguns dias por aqui – tem sido um ano longo e esse vai ser o último show de 2014. Eu acabei de descobrir que será numa casa muito pequena e intimista, de longe o menor palco que eu toquei este ano e eu estou muito animado com isso. Meus shows favoritos acontecem quase sempre nas menores casas, como se tivesse uma alguma coisa com a relação proporcional da música num espaço menor – a energia é mais pressurizada e os riscos são maiores.

“A U R O R A” é, pelo menos nos termos da sua discografia, um disco mais luminoso, mais quente em comparação com os anteriores. Até no título há uma sutileza que não é vista naquele imaginário metálico (máquinas, aço, etc.). Por outro lado, ele mantém algo da atmosfera sufucante que é comum nos seus trabalhos. Foi sua intenção que o disco soasse desse maneira?

BF: Minha intenção é me jogar, sabendo que meu equilíbrio interno obedece de certa forma a esse indefinível senso de proporção que eu imagino que seja uma combinação de instinto, experiência e influência… existe um certo arranjo entre o espaço e os objetos que eu procuro – o fonte do material é irrelevante – pode ser a voz, a proximidade do microfone ou instrumento, ou a cor de um tipo de distorção ou textura – eu procuro por relações equilibradas entre todos esses elementos e como eles se relacionam com os outros. Eu não consigo te explicar exatamente o que é esse balanço, eu só entendo quando eu ouço.

Você trabalhou com Michael Gira, Brian Eno, Tim Hecker e passou um bom tempo fora da Islândia trabalhando em um documentário com Richard Mosse. Essas colaborações tiveram alguma influência em “A U R O R A”?

BF: Hecker, Mosse, Eno, Gira – Sim, é um grande prazer poder ligar para esses homens incríveis e trabalhar com eles nas suas várias capacidades – e eu sinto a influência deles de incontáveis maneiras.

Terminando com a clássica pergunta ego-trip do jornalismo brasileiro: o que você conhece sobre a música brasileira? Eu consigo ver alguma coisa em “Nolan”, mas acho que tem mais a ver com sua viagem ao Congo. Tem alguma coisa que você está particularmente interessado em ver aqui?

BF: Eu conheço muito pouco sobre música brasileira além do que eu ouvi numa compilação da Soundway há alguns anos – Eu gostaria que me ensinassem… Eu estava ouvindo algo de música eletrônica brasileira antiga outro dia feita pelo Jorge Antunes mas alguém precisa me colocar na direção certa.

Com “A U R O R A” eu realmente tentei encontar uma via em direção ao ritmo e a batida que viesse de fora da típica linhagem navio negreiro-campo de algodão-sul dos EUA-rock-dance music, o que é muito mais difíl de fazer do que parece. O cérebro humano está firmemente ligado logo cedo e é praticamente impossível desligá-lo… gente como John Cage passa a vida inteira deles tentando.

Encontrar uma nova linguagem para a música – sem ser planejado – é uma guerra. E eu vou passar minha vida inteira perdendo essa guerra, tenho quase certeza disso. Mas a luta está sendo bem documentada.

SERVIÇO
Ben Frost – 06 de dezembro de 2014 (sábado)
Oi Futuro
Entrada: R$ 20,00 (meia entrada: R$ 10,00)
Classificação: Livre
Informações: (21) 3201-3010
Endereço: Rua Visconde de Pirajá, 54/ 3º andar – Ipanema
Bilheteria funciona de 3ª a Domingo de 15h as 20h