5 músicas sensacionais sobre futebol (e que você talvez não conheça)

Houve uma época na qual todo conteúdo televisivo sobre algum aspecto positivo do futebol (“estádios mais cheios” ou “maior média de gols no Brasileirão”) certamente teria como trilha sonora “Eu quero ver gol” (d’O Rappa) ou, principalmente, “Uma Partida de Futebol” (do Skank, composição de Nando Reis).

Hoje, os editores dão aquela enganadinha e já estão saidinhos colocando algum rock alternativo ou qualquer coisa quase aceleradinha que combine com a velocidade das imagens. O que importa é: por termos tantos clássicos ligados ao esporte (de “Umbabarauma”, de Ben Jor, a “O Campeão”, de Neguinho da Beija-Flor), que alguns outros tão bons e clássicos quanto esses acabam sendo esquecidos – ou nem mesmo conhecidos. Então vamos a eles (ouça a playlist em sequencia aqui embaixo): Fita Bruta – 5 músicas sensacionais de futebol (mais bônus tracks) by Yuri de Castro on Grooveshark

5.Trio Esperança, ReplayReplay
Trio Esperança

“É gol… que felicidade!” Essa é manjada para os paulistas que não perderam o hábito de ouvir jogos de futebol pelo rádio. A cada berro de gol que sai das cabines de transmissão da Rádio Jovem Pan, o refrão de “Replay” é uma das coisas mais sensacionais do rádio brasileiro. Gravada em 1974, a faixa se tornou um hino do amante de futebol no país ao narrar sob a perspectiva televisiva um gol de falta de Paulo Cesar Caju, então jogador do Flamengo. Em 74, o rádio ainda era o fiel companheiro de quem ia ou não ia para os estádios — o que aumenta ainda mais o charme desse clássico surgia. Além disso, o Trio Esperança não duraria muito tempo no imaginário popular. “Replay”, então, não foi chegando às novas gerações e, hoje, depende da curiosidade de algum guri que, por acaso, queria ligar na Jovem Pan para ouvir o jogo do seu time (num mar de possibilidades de streamings piratas do Pay-per-view que é a internet brasileira).

Faixa Bônus
Artista: Jorge Ben
Música: “Camisa 10 Da Gávea”, “Zagueiro”, “Cadê o Penalty”
Por quê? Jorge Ben enfiava (genialmente) futebol em várias letras suas. Em “Meus Filhos, Meu Tesouro”, o que Arthur Miró queria ser? Sim, jogador de futebol. E… por quê mesmo o nome do menino era Arthur, hein? Resposta: Arthur Nunes Coimbra, o Zico. Sim, foi para o Galinho que Jorge Ben fez um clássico do esporte e da MPB: “Camisa 10 da Gávea”. Recentemente, a Nike quis juntá-lo a Daniel Ganjaman, Céu, Thalma de Freitas, Anelis Assumpção e, claro, a Mano Brown — não à toa: Jorge soube falar de futebol como poucos. “Zagueiro” e “Cadê o Penalty” são outras que mostram a visão do compositor, rubro-negro doente. Esta última ganhou uma versão ótima do Skank no início dos anos 90. Jorge Ben ainda iria escrever a clássica “Fio Maravilha”.

4.ZicoMarcos Valle
Flamengo Até Morrer

Uma das músicas mais sensacionais de Marcos Valle dialoga com “Águas de Março”, com política, com amor e, claro, com futebol. A faixa “Flamengo Até Morrer” está no álbum clássico de Valle, “Previsão do Tempo” e, com muito charme, não cita Zico (porque não precisa, mas cita Fio Maravilha. Aquele mesmo). Aliás, só para registro, a faixa parece uma homenagem ao time rubro-negro. Valle era botafoguense e há uma ironia fina que permeia a letra da canção.

Faixa Bônus
Artista: Pixinguinha
Música: “Um a Zero”
Por quê? A composição de Pixinguinha é um clássico do choro brasileiro. Mas poucas pessoas conhecem a versão letrada por Nelson Ângelo. Abaixo, você pode ouvir e conferir a letra sensacional na interpretação do grupo Casa de Marimbondo e também relembrar a original em duas versões: em uma Pixinguinha em estado bruto e na outra com Benedito Lacerda.

3.AfonsinhoMeio-de-campo
Gilberto Gil/Elis Regina

A estrela de “Meio de campo” é Afonsinho. Você perguntará: quem? Pois é. Engajado, o rebelde meia do Botafogo nos anos 70 foi um dos primeiros proletarios da bola a se posicionar politicamente em tempos nada propícios para isso e num meio praticamente considerado apolítico. Pagou o preço: desagradou a boleiragem, os dirigentes (que não só barraram o jogador do time como também insistiam em não negociá-lo) e os militares e hoje não figura no imaginário coletivo do futebol. Afonsinho era um jogador genial e, por razões tão óbvias quanto ruins, nunca chegou perto de vestir a camisa da seleção. Ainda muitos lembrem-se de como lutou contra a padronização dos cabelos e das barbas imposta autoritariamente pelos dirigentes alvinegros, Afonsinho merece ser lembrado como o primeiro jogador que conseguiu na Justiça o seu passe livre. De quebra, figurou em uma das melhores músicas do repertório de Elis Regina com letra genial de Gilberto Gil.

2.Siba e a FulorestaMeu Time
Siba e a Fuloresta

É uma pena que “Meu Time” não tenha sido descoberta pelas torcidas rivais ao Fluminense. Os gritos de “pague a Série B” seriam muito mais interessantes se rubro-negros e alvinegros emendassem essa composição brilhante de Siba (que, por acaso, não se interessa nem um pouco por futebol e acabou criando uma homenagem ao Santa Cruz, de Recife, sua terra, time que também caiu muitas vezes). A letra é genial e fala do sujeito que viu seu time ser rebaixado para a terceira divisão. Romântico e apaixonado, o torcedor tenta jogar a culpa do rebaixamento para todos e tudo, menos para o seu time que tem um jeito todo peculiar de encarar o futebol. Afinal, ninguém pode ganhar campenato se juíz não tem mãe, nem coração.

 

1.Douglas GermanoSeu Ferrera e o Parmera
Douglas Germano

Se você não conhece Douglas Germano, isso significa que você ainda não ouviu o Metá Metá que é a maior band… (Ok, ok. Não vou falar de novo do Metá Metá). Douglas Germano é um compositor paulista e de sambas brilhantes. Parceiro de Kiko Dinucci no Bando Afromacarrônico, desenvolveu uma capacidade extraordinária de escrever sambas certeiros quaisquer sejam os assuntos neles. “Oba Iná”, “Rainha das Cabeças” e a inédita “Sozinho” do er… Metá Metá são dele. Em “Ori”, disco de 2011, Douglas tem um clássico não descoberto: chama-se “Seu Ferrera e o Parmera”. Com interferências de uma transmissão radiofônica fictícia de um jogo entre XV de Jaú e Palmeiras, Douglas conta com extremo bom humor a saga de Seu Ferrera que acompanha os noticiários (lê primeiro o Avalone, rasga Chico Lang e despreza friamente o Juca Kfouri) e vai ver o escrete alvi-verde no Palestra Itália. Enquanto descreve a ida de Seu Ferreira ao estádio, o samba mescla narração com interferências típicas de torcedores e, claro, com as declarações do suposto Seu Ferreira. O XV de Jaú (que está longe de ser um Manchester United, como diz o próprio torcedor) vai dando um banho no Palmeiras e o Seu Ferreira treme mais do que o Yamandú (Costa). Genial, não?