Os 25 Melhores Álbuns Internacionais de 2014

10.future-islands-singles-2014Future Islands
“Singles”

O pop de tom perfeito do Future Islands soa synth-pop. Não é nada absurdo para 2014. A solução da banda liderada pelo carismático Samuel Herring é ser charmosa e forte para que o drama não mele e não vire combustível futuro para alguma Antena 1 da vida. O antídoto da pasmaceira é trazer o ouvinte para ‘Singles’ de forma cativante e, no entanto, nem por isso fácil. A dor de Herring é exposta da forma inversa que tornou bandas como o Coldplay marionetes do entretenimento e pouco revelantes para o futuro da canção pop. Música pra fazer o vidro nublar, música pra fazer música, música pra ouvir sozinho. Música pop. Pronto. (Yuri de Castro)

09.spoon-they-want-my-soul-300Spoon
“They Want My Soul”

Todos os discos da história recente do Spoon são descritos como “Spoon demais”, o que já diz muito sobre solidez da banda de Britt Daniels. Ainda sim, “They Want My Soul” honraria bem o título de “the Spooniest” e funciona como um reboot com o melhor das quase duas décadas da banda. Sucedendo dois trabalhos de diferentes inclinações – o expansivo “Ga Ga Ga Ga Ga” e o retraído “Transference” – o disco mostra o grupo confortável em sua própria pele, mas nunca preguiçoso. (Livio Vilela)

08.todd-terje-its-album-time-2014Todd Terje
“It’s Album Time”

Todd Terje parece ter se divertido mais do que o habitual ao se decidir, enfim, pela produção de um “disco cheio”. Da capa à foto de divulgação, do videoclipe da reciclada “Inspector Norse” ao título do álbum, tudo que gira ao redor da música se recobre da sensação de que o norueguês está muito à vontade rindo de si mesmo. Na música, propriamente, toda essa moldura se revela mais uma estratégia irônica do que qualquer outra coisa. “It’s Album Time” é uma espécie de “adult-oriented space disco” que funciona em pistas de dança, biritas na praia, elevadores, festas de família e reuniões de condomínio. O alcance confirma o quão acertada tem sido a aposta no resgate como bandeira da renovação do pop eletrônico. Tem ainda Bryan Ferry cantando a versão de um clássico do Robert Palmer, de um jeito que lembra o David Lynch, para dizer que boites, cabarés e afins também guardam uma tristeza abissal. (Thiago Borges)

07.st-vincent-300St. Vincent
“St. Vincent”

As poses imperiais da capa e do material promocional de “St. Vincent” dizem tudo que há para dizer sobre o disco. Aqui, Annie Clark renasce (“Birth In Reverse” abre o álbum) como um ser quase pós-humano, que retoma o sarcasmo aguçado do velho Bowie para colocar o resto do mundo cara a cara com sua própria banalidade. Soa pretensioso e é, mas soa também perfeitamente em casa com a habilidade única de Annie na guitarra. Se a trilogia que antecede “St. Vincent” ainda era repleta de ideias mal realizadas apesar do brilhantismo, aqui Annie vai até o fim. (Livio Vilela)

06.damon-albarn-everyday-robots-300Damon Albarn
“Everyday Robots”

2014 foi o ano em que Damon Albarn se apresentou sem máscaras ao público: o nome na capa do disco é seu, não é Blur, Gorillaz, The Good The Bad & The Queen ou qualquer outro das dezenas dos seus projetos paralelos. O resultado é um disco-auto-retrato (disco-selfie?): um quê melancólico, recheado de crônicas contemporâneas e repleto das mais belas melodias que 2014 pode encontrar. As canções de “Everyday Robots” se mostram bastante comuns na primeira audição. Mas, quanto mais se escuta o disco, mais ele se abre em diferentes camadas, significados, sons. Dar a cara a tapa, nome cru na capa do disco,  é uma tarefa comum que transforma-se num bicho de sete cabeças depois de mais de 20 anos de carreira. Mas Albarn contorna todo esse peso e entrega com leveza um dos melhores álbuns de 2014. (M.Vinhal)

05.flying-lotus-you-re-dead-300Flying Lotus
“You’re Dead!”

A medida da sofisticação a que chega o trabalho do Flying Lotus é a dificuldade não de responder qualquer coisa, mas, antes, de formular adequadamente as questões que o disco propõe. Nos termos – orgânico ou eletrônico? jazz ou hip-hop? caos ou beleza? a morte na vida? a vida depois da morte? – tudo soa ridiculamente bobo. Ficamos aqui, idiotas, tergiversando, enquanto ele ergue uma nau que navega firme e supera essas dicotomias. “You’re Dead!” é cinematógrafico tanto na maneira como conta histórias a partir de paisagens, quanto na forma como constrói cenas a partir de pequenos fragmentos. Somam-se as companhias de Thundercat, Snoop Dogg, Angel Deradoorian, Herbie Hancock e Kendrick Lamar, que canta “I can see the darkness in me and it’s quite amazing / Life and death is no mystery and I wanna taste it”, e não há mais motivos para desejar “queria estar morta”. (Thiago Borges)

04.war-on-drugs-lost-in-the-dream-300The War On Drugs
“Lost In The Dream”

Adam Gradunciel tem problemas. Ansiedade, síndrome do pânico e insegurança geral é o permeia o terceiro álbum do War on Drugs, ‘Lost In The Dream’. O longo período de reclusão e gravações solitárias na casa de Gradunciel em 2013 só chegaram ao fim porque o cantor/guitarrista já havia marcado sessões em estúdios fora da Philadelphia, onde ele reside. O medo e a ansiedade iam juntos conforme o álbum e a expectativa progrediam, “espero não morrer antes de lançar esse álbum”, disse Gradunciel uma vez. “Lost In The Dream” é repleto de referências nostálgicas aos anos 80 em suas grandes canções. “Under the Pressure”, “Red Eyes”, “An Ocean Between the Waves”, entre outras faixas, descarregam estas influencias oitentistas num manto perfeccionista e contemplativo. É como se os rocks que frequentam a programação das rádios adultas fossem explorados além do formato três minutos de duração, solinho de guitarra e refrão. Muito além disso: o experimento da saúde mental de Granduciel rendeu o grande álbum de rock do ano. (Túlio Brasil)

03.fka-twigs-lp1-300FKA Twigs
“LP1”

2014 foi o ano de Tahliah Debrett Barnett, a moça que faz música sob o nome FKA twigs. Em seu primeiro disco, LP1, a cantora, compositora, produtora musical, diretora, dançarina (a lista poderia seguir…) não só comprovou todo o potencial que já anunciava nos EPs anteriores, mas também ultrapassou qualquer expectativa. LP1 é intenso, com uma produção eletrônica que por si só já dispensaria qualquer voz, qualquer linha melódica. Mas twigs vai ainda mais além e cria canções extremamente bem acabadas, com letras inspiradas, cantando como poucas hoje em dia. Um álbum completo, surpreendente. Esta mulher trabalhou, em 2014, como poucas pessoas e um ano é pouco tempo para colher os frutos deste seu primeiro disco. (M. Vinhal)

02.sun-kil-moon-benji-300Sun Kil Moon
“Benji”

Perto do que se faz em música no ano de 2014, é de certa maneira surpreendente que um disco baseado quase todo em voz e violão tenha se tornado tão popular. Lançado em janeiro, “Benji” foi, inicialmente, angariando fãs devido a sua brutal sinceridade. E aqui, sinceridade, não serve como sinônimo de modéstia. Numa análise superficial, o excesso de detalhes pode parecer desimportante para quem não tem grande interesse na vida do compositor mas é nessa total falta de pudor que se encontra a glória de “Benji”. Mark Kozelek fez dessa intimidade assustadora elemento crucial da sua música, transformando a audição de uma obra aparentemente simples numa experiência única e transformadora.

As minúcias da vida de Kozelek são as bases dessa experiência. Poderiam ser field-recordings, poderiam ser ruídos, poderiam ser sintetizadores. No fim, a sensação é quase tão particular quanto a de ouvir um disco do Merzbow. É provável que para quem escute sem total entendimento do que é dito, “Benji” soe, no geral, monótono. Mas é essa monotonia que faz o discurso ainda mais poderoso. Quando em “I Watched The Film The Song Remains The Same” revela progressivamente como se tornou músico e, principalmente, como se tornou o músico que ele é, agora, Kozelek dá uma nova dimensão a sua música, cinematográfica, literária. Ele conta quando assistiu o filme, onde assistiu, com quem assistiu. Assim como num livro, ou num filme, cada detalhe é essencial para a compreensão da obra por inteiro.

Se é cinematográfico e literário, “Benji” poderia ser facilmente confundido com um tragédia, já que fala tanto da morte, de conhecidos e desconhecidos, e de como isso afetou a auto reconhecida melancolia do compositor (“eu vou para o caixão com minha melancolia/e meu espírito vai ecoar meus sentimentos por toda a eternidade”). Ao contrário, o disco fala sobre a vida. De certa forma, é o equivalente musical de “Boyhood”. No seu melhor disco como Sun Kil Moon, Mark Kozelek fez um filme sobre a vida que é simples como parece: “Benji” não é nada mais do que um disco de folk “confessional”. Mas raramente o simples foi tão provocativo. (Cesar Márcio)

01.dangelo-black-messiah-300D’Angelo
“Black Messiah”

Deve haver alguma espécie de herança maldita para quem tenta seguir o legado dos atormentados ícones do funk e do soul. Responsável pelo surgimento do termo “neo-soul” na ocasião do lançamento de seu primeiro álbum, “Brown Sugar”, D’Angelo é tão obcecado pelos seus ídolos Marvin Gaye, Prince e Sly Stone que resolveu também imitar o perfeccionismo, a insegurança e a instabilidade emocional dos musos. Depois de conseguir a simpatia da crítica, chegar ao topo da Billboard e ser alçado à condição de símbolo sexual com o inusitado vídeo de “Untiled”, D’Angelo deu uma bela enlouquecida, foi preso algumas vezes, quase morreu em outras e prometeu o sucessor de “Voodoo” outras centenas de vezes.

Desta vez ele precisou de apenas 14 anos. Parece muito, mas o tempo passa de maneira diferente para o herdeiros do soul. Lauryn Hill, por exemplo, até hoje não deu sequência a sua “Miseducation”. Andre 3000, outro herdeiro, não sabe se vai ou se fica com o Outkast. Para D’Angelo, a relatividade do tempo só fez bem: “Black Messiah” tem o som da minúcia. Se Prince em pessoa não impressionou com seus dois discos lançados em 2014, seu pupilo fez exatamente o se esperava dele nos anos 80: música com referência e reverência, mas não parada no tempo, mofada. Do riff de “Ain’t That Easy” ao R’n’B classicista de “Another Life”, D’Angelo passa por tudo que foi a cultura negra nos últimos 50 anos (rock, blues, funk, soul, jazz), oferecendo presentes tanto para quem espera por um disco de retomada quanto para quem procura por novas abordagens. Passados 14 anos, o mundo já viu o neo-soul nascer e morrer amassado por Adele, viu retrógrados-modernos como Black Keys, viu super astros do pop como Beyoncé e Timberlake, viu o hip hop estelar do Outkast, todos reinando por terrenos que, aparentemente, D’Angelo desistiu de comandar. E mesmo depois de tudo isso “Black Messiah” o recoloca exatamente no lugar em que estava com quando lançou “Voodoo”. Vê como o tempo é relativo? (Cesar Márcio)