Os melhores (e os piores) funks de 2012 (até agora)

Sem lero-lero: quais os melhores funks de 2012? O Fita Bruta resenhou a paulista “Role de Hayabusa” e deu nota 10 pro disco do Maga Bo muito por culpa da releitura pesada de um funk sensacional do underground carioca. Mas é inegável que neguin tomou de assalto o gênero com o sotaque paulista. E, com a ajuda do videomaker Kondzilla, os paulistas invadiram o Youtube e, consequentemente, já forma parar nos programas de auditório da televisão brasileira. O problema: 7 entre 10 funks de 2012 com sotaque paulista são bem ruins. Claro, MC Gui e MC Rodolfinho certamente estão na lista dos negativados. Na lista dos melhores, foi difícil achar um funk de São Paulo que fizesse frente aos cariocas. Mas, sem caô…

 

Então, quais são, até agora, os melhores e os piores funks de 2012? Vamos começar com os melhores:

#6 | MC Roba Cena, “Poxa Vida”

Sexto da lista e com direito a sampler da regravação de “Poxa”, por Zeca Pagodinho, o MC que ficou famoso após compôr “Parado na Esquina” conseguiu, enfim, realizar um funk bom. Se “Cutucando, cutucando” já era considerado um dos piores lançamentos do ano, em “Poxa Vida” a parada é maneira.

“Ela passa rebolando (30x) depois empina a bunda porque sabe que me instiga; POXA VIDA HEIN UOWWWW! Ela instiga todo mundo com esse corpinho, fala Poxa Roba Cena até o Zeca Pagodinho (???)”

#5 | MC Max, “Quase Fdeu Tudo Na Prra do Facebook”

Senso de humor, enfim. O problema dos pares de MC Rodolfinho, Boy do Charmes e toda a trupe paulista é: não ter o mínimo de senso de humor. É uma repetição sem fim de nomes de carros, óculos, bebidas em um sotaque estranho para o gênero. Nessa música, MC Max ostenta, claro. Mas se a premissa é a mesmíssima de sempre (mulheres), a adaptação aos novos canais (rimando Deus me ajude com Facebook) é quase genial.

“Duas mulheres importantes: eu não sei quem é fiel, eu não sei quem é amante (…) Minha mãe vive dizendo: decide quem você quer. Eu quero as duas pra me amar. Mas um dia essa p**ra um dia vai babar”

[UPDATE] A versão editada para as rádios é ainda melhor que a original ao usar “deu ruim”, melhor gíria do Rio de Janeiro. A responsabilidade é de Byano DJ, um dos maiores DJs do funk carioca:

#4 | MC Beyonce, “Fala mal de mim”

Tenho problemas sérios com o funk feminino e agressivo do Rio de Janeiro. MC Byana e suas amigas pouco conseguem fazer dançar. Conseguem, no máximo, gerar um discurso vazio para uma briga bem baixa entre mulheres disputando algum homem. O que, por si só, já é horroroso. Mas, taí: “Fala mal de mim” é bacana (ainda que tenha gerado uma resposta da MC Katia que é lamentável pro funk).

“Fala mal do meu cabelo e da minha maquiagem. Ô, coisa escrota: pode falar à vontade”

#3 | MC Duduzinho, “Normal, mamãe passou açúcar em mim”

Pra mim, da lista, a melhor no quesito apropriação. Wilson Simonal curtiria seu refrão sendo dito em um funk como bordão de uma mulher para definir sua fama. Mais um carioca, aliás.

“No baile funk ela é a sensação. Chamei ela de gostosa e ela respondeu assim: normal, mamãe passou açúcar em mim”

[UPDATE] “Normal, Mamãe Passou Açucar Em Mim” gerou diversas paródias. Segue as melhores:

    • Gorila & Preto, “Normal, Mamãe Passou Petróleo em Mim” (cotação: *****) e MC Decão, “F*deu, Minha Ex Jogou Macumba em Mim” (cotação: *****)

 

#2 | MC Dede, “Role de Hayabusa”

Preferida da casa, “Role de Hayabusa” ganhou até resenha exclusiva aqui no Fita Bruta. O paulista MC Dede acertou em cheio em um funk que fala aquilo tudo o que já se fala no funk paulista. Ou “só” se fala. Mas a grande sacada do moleque de Tiradentes: imitar o estilo do funk melody dos anos 90. Resultado: um dos melhores funks do ano. Mas a letra, bem ruim, estraga tudo. Por isso, ganhou nota média aqui no Fita. E é por isso que ficou no segundo lugar.

“Ao contrário do que dizem por aí, sei que você quer se divertir. Andar de vestidinho, mini-saia e mini-blusa; vem dar um role de Hayabusa”

#Faixa Bônus | Sanny Pitbull & Emicida, “Sorriso Favela”

Antes de anunciarmos o primeiro lugar, se liga nessa: convidado para integrar a trilha do game Max Payne 3, o rapper Emicida lançou a musicaça “9 círculos” e ainda se juntou ao DJ Sanny Pitbull (um dos ícones conservadores do funk carioca) para recriar um ambiente old school no gênero. “Sorriso Favela” é um alívio pra quem tá cansado do tchum-tcha.

“Eu vim devolver o seu sorriso favela!”

#1 | Maga Bo, BNegão & Funkero, “Piloto de Fuga”

O maior, mais expansivo e mais potente funk do ano. O disco ganhou nota 10 aqui no Fita Bruta. E esse funk é algo sensacional. Dá vontade de sair na rua e cometer alguma infração no código de trânsito. Essa música é do Funkero e foi lançada em uma mixtape sua pouco conhecida. O produtor Maga Bo, americano radicado no Rio de Janeiro, recrutou BNegão e sapecou uma batida mais contemporânea do funk carioca na faixa e… o resultado é algo sensacional. A letra consegue ser melhor que qualquer roteiro de um dos Velozes e Furiosos. Uma das melhores faixas do ano, de qualquer gênero.

“É só piloto boladão, tem que ter disposição. E se tu não toca brabo é melhor nem tentar não”

#6 |  MC Guime, “Plaque de 100”

É tão difícil falar quão horrível é esta canção que suponho ser este um daqueles momentos em que a música fala por si.

#5 | MC Neguinho do Caxeta, “As Novinha Tão A Mil”

Incluindo o clipe (claro, produzido pelo Kondzilla), essa causa repulsa. Não é nem pela fantasia. Mas é pela insistência de que a “nave” e o “jet-ski” são indicativos do “progresso e putaria”. É burrice e machismo cantados em uma voz insuportável. E se tirar a burrice e o machismo, fica a péssima letra e péssima voz do Neguinho do Caxeta.

#4 | MC Rodolfinho, “Ai Meu Deus Como É Bom Ser Vida Loka”

Sampleando Racionais MC’s (“Vida Loka pt. 2”) e plagiando Valesca Popuzuda e Mr. Catra (“To Com O C* Pegando Fogo”), MC Rodolfinho fez o hino mais irritante do ano. Há um mérito e, por isso, não o elegemos como o pior do ano. O mérito é: cunhar o termo, fazer um metrô inteiro cantar, transformar, enfim, um hit do funk em hit do ano, não é pra muitos. MC Rodolfinho colocou seu nome no hall dos one hit wonders do funk — são muitos, vide MC Créu. Mas a métrica porca, a rima horrorosa fazem de “Ai Meu Deus Como É Bom Ser Vida Loka” uma jogada ensaiada triangulada por  Obina, Souza e André Lima: pode até sair gol, mas o valor estético é zero.

#3 MC Boy do Charmes, “Megane”

O MC Boy do Charmes também embarcou na onda do Rodolfinho: o importante é emplacar um refrão. O resto que se exploda. E “Megane” é bem isso mesmo. Sem contar que Megane é um carro bem do safado pra ilustrar um funk. Os versos dessa canção são bem ralé e o refrão (e a voz) do Boy do Charmes causam algo perto da irritação. Curioso notar a relação entre humildade e ostentação tão repetida na letra. É quase incompreensível.


 #2 MC Byana, “Luxuria”
MC Byana perdeu o bonde da história. Está vivendo 2006 em 2012. Seis anos de defasagem. Sua agressividade já foi moda outrora no Rio de Janeiro. Hoje, em São Paulo, seu funk não passa de uma cópia deslavada, agressiva e com mais letra (ruim) de qualquer pior música da Tati Quebra Barraco. A diferença é que Quebra Barraco nunca conseguiu emplacar suas músicas ruins na rádio; todas as que tocaram eram hits certeiros e uma leitura precisa do machismo incorporado na fala feminina. Byana, no máximo, surge para repetir estereótipos já reafirmados há quase uma década.

#Faixa Bônus | MC Gui ft. Nego Blue, “Ela Qué”

“Ela quer o meu Camaro e meu iate”, diz MC Gui do alto dos seus 14 anos. Já falamos: não há problema com a fantasia. O problema aqui é a falta de esperteza de quem produziu a faixa. A voz de frango do moleque soa humor involuntário em qualquer carro que ouse tocar este funk em alto volume no porta-mala. É faixa-bônus porque o sample de “Ela Qué” que introduz o refrão é bem maneiro. Mas, de resto, desprezível.

#1 | MC Boy do Charmes, “Onde Eu Chego Paro Tudo”

Nosso ídolo. Olha o nome da música. Agora, ouça a letra falando sobre como é possível ter humildade. Uma aula. Todos os defeitos de “Megane” estão aqui. A diferença é que esta canção não empolga nem o mais funkeiro dos passageiros de um ônibus. Disparado o pior MC do mainstream do funk nacional.