Apanhador Só @ Studio RJ (12/04/2012)

Texto por Sarah Quines, fotos de Rudá de Melo

Quem disse que já não se fazem mais canções como antigamente deveria ouvir Apanhador Só. O quarteto gaúcho, que lançou no último dia 10 o belo clipe da música “Nescafé”, se apresentou no Studio RJ na quinta, dia 15.

O show, que estava marcado para as 21h30, começou quase uma hora depois, mas o atraso veio a calhar. Seria um desperdício começar uma apresentação para a plateia minguada. No entanto, aos poucos, a casa foi enchendo até atingir um número considerável. O clipe foi apresentado no telão para a plateia que se dividia entre observar o vídeo fazendo comentários ou acompanhando a letra.

Se o rock gaúcho é um terno mofado, a fórmula banalizada não é seguida pelo Apanhador Só. Ao não trazer mais do mesmo (o velho estilo a la Beatles-Rolling Stones-The Who), a banda mostra maturidade na forma de mesclar gêneros e faz uma espécie de música popular brasileira contemporânea que extrapola a estética associada à cena de rock do sul .

Como em “Balão- de- vira-mundo”, com arranjos que lembram um tango argentino, ou em “Maria Augusta”, com pitadas de forró, ou ainda em “Bem-me-leve”, com a cadência acompanhada pelo som de uma bicicleta. E essa é outra característica peculiar do grupo: fazer som com instrumentos inusitados, como apitos, uma grade de forno, chave de fenda e a bicicleta – que, além de figurar no palco, também estampa a capa do disco, adesivos, camisetas e botons.

As versões da gravação em fita k-7, lançada em 2011 à base de facas de cozinha, violão de plástico, entre outras quinquilharias,  ficam limitadas nas apresentações, pois tirar som de toda essa parafernália dentro de uma casa de shows não causaria o mesmo efeito, nem parece ser essa a proposta. Enquanto o quarteto fez suas intervenções acústico-sucateiras no Parque da Redenção (RS), é nas guitarras que eles se apoiam no show no Rio. E tiveram também a participação de Rafael, assistente de fotografia do clipe novo, para tirar som da bicicleta e dos apitos.

Com os versos de “Peixeiro”, a banda deu início ao show (“O nosso amor, uma garrafa de vinho/ virando vinagre devagarinho”). E o contagiante “lara-lara-laia-laia” de “Na ponta dos Pés” foi acompanhado na ponta da língua por um público entusiasmado. No palco, Alexandre (voz/guitarra), Felipe (guitarra), Martin (bateria) e Fernão (baixo) tocaram como se estivessem em uma festa de amigos – sem afetação rock’n’roll.

A maior parte do repertório do show no RJ foi composta pelas músicas do primeiro disco, mas também incluiu a inédita “Paraquedas”, que vai fazer parte do compacto em vinil produzido por Curumin. Comparando este show do Rio com um feito em 2010 no sul, na época do lançamento do primeiro disco, a banda parece estar mais à vontade no palco, e a plateia mais familiarizada com a música.  De modo geral, o público sabia arranhar uma ou outra parte de quase todas as letras – o que é louvável para uma banda independente de poucos anos na estrada.

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p dir=”ltr”>Depois de tocar “E se não der”, anunciada como a última do show, aos pedidos de “mais um”, a banda voltou com a alegre “Vila do meio-dia”. O “laia-laia” foi estendido até culminar em uma bateria quase carnavalesca, tocada a quatro mãos por Felipe e por Martin. O som ao vivo é bastante parecido com a música gravada no disco de estreia, e a estrutura do espaço favoreceu uma boa acústica da performance.

A sonoridade incorporada a influências de MPB, rock, tango, e aliada a uma métrica elaborada nas letras mostra que o rock pode (e deve) ser reinventado numa música que ainda desliza dos rótulos existentes, ao mesmo tempo em que recicla com propriedade a velha e boa canção.