Cobertura Novas Frequências: David Toop & Chelpa Ferro, James Ferraro @ Oi Futuro Ipanema

Fotos: Eduardo Magalhães/I Hate Flash

No segundo dia de Novas Frequências todos os presentes puderam fazer uma ótima piada que consiste em “ei, hoje as frequências não são tão novas assim né rsrsrsrs”. Hilário, não é mesmo?

Então, piada ruim contada, vamos ao que interessa: quem estava no palco era o veterano David Toop e trio brasileiro Chelpa Ferro, numa das apresentações mais impressionantes desses três anos de festival. Se falamos em experiências intensas no primeiro dia de NF, as do segundo dia chegaram a níveis quase brutais.

Toop iniciou a noite só com o violão com o silêncio cúmplice da plateia que faria inveja a João Gilberto. O violão foi o único instrumento tratado de maneira convencional. Se o tambor de bateria é normalmente violentado por uma baqueta de madeira, Toop prefere usar galinhos frágeis que dificilmente fariam algum efeito atacando o instrumento de modo mais comum. A guitarra não precisa ser empunhada, a flauta não precisa ser delicada… No mundo de Toop os instrumentos podem e devem ser pervertidos.

Numa combinação absurdamente feliz, o Chelpa Ferro veio por vias quase contrárias para se alinhar perfeitamente ao universo do inglês. Contrárias, porque os brasileiros já partem da inconvencionalidade desde a fabricação dos instrumentos. É como se Toop pervertesse o tradicional com o inconvencional e o Chelpa pervertesse o inconvencional com o tradicional. E os dois chegaram juntos no mesmo lugar.

Qual é esse lugar? Não se tem muita certeza. Na superexperiência que o Novas Frequências promoveu na última quarta feira, ninguém na plateia saiu muito certo do realmente pensa sobre música.

James Ferraro

Na noite seguinte, James Ferraro também foi pela contramão. Mas colidiu.

Curiosamente, uma das imagens projetadas no telão era de um acidente de carro. Com Ferraro a perversão do tradicional parece acontecer simplesmente porque ele não sabe fazer desse jeito. E então ele colide o tempo inteiro, com as imagens, com seu equipamento e com a plateia.

Nesta quinta, pela primeira vez, pode se ouvir a audiência conversando em volume mais alto que o do som vindo do palco. Um indicador de que muita gente não compreendeu a mensagem do garoto americano. Ou compreendeu e não quis embarcar. Colocaria todas minhas fichas na segunda opção.

O problema maior não é a falta de habilidade de Ferraro (embora os cortes “abruptos” tenham incomodado parte da plateia em alguns momentos). A grande questão é que a mensagem é cansativa. Fazer o que o rapaz fez ontem no palco é muito fácil. Uma audiência acostumada com desafios, como a da Novas Frequências, provavelmente reagiria com certa frieza a uma apresentação como essa. E foi o que aconteceu. A frequência de Ferraro talvez seja “nova” demais.