Criolo @ Cabaret Sauvage, Paris (03/07/2012)

“With great hype comes great responsibility”. Talvez seria essa a frase se, ao invés de escrever sobre um super-herói, Stan Lee tivesse escrito sobre uma pessoa fazendo música nos anos 2010. Criolo é um desses, e certamente sentiu o peso e a glória do reconhecimento ao longo do último ano, enquanto formava sua própria legião de adeptos e de desafetos. Na última terça-feira, 03 de junho, havia mais gente para vê-lo no Cabaret Sauvage, em Paris, do que havia por exemplo em Brasília, a quase um ano atrás, no seu primeiro show na capital após o lançamento de “Nó na Orelha”. Entre um show e outro, Criolo ganhou troféus, cantou com Caetano e foi cantado por Chico Buarque, foi a Londres tocar com Mulatu Astake e chegou a Paris.

E não é muito difícil entender, ali, no show, o motivo de tão rápido reconhecimento e adesão de público. É que Criolo – os haters hão de concordar – é único no cenário musical brasileiro. A partir da direção musical de Daniel Ganjaman, sua música possui uma qualidade inconteste. O que já era claro ao longo de seu disco fica ainda mais perceptível (e melhor) ao vivo, em especial nos sopros de Thiago França e nos teclados e efeitos comandados por Ganjaman. Mas não é obvidamente a qualidade de seu som que faz de Criolo algo único hoje. É sua persona, que tanto desperta interesse e aversão – muito mais que sua música, diga-se de passagem. E, assim como acontece com ela, sua música, o que já é perceptível no disco, nos clipes, nas entrevistas etc. se torna ainda mais nítido nos shows: com uma energia fora do comum, o rapper assume algo que fica entre o personagem de si mesmo e algo que emana autêntico.

É quase como se, com Criolo, a atual música brasileira tivesse ultrapassado essa ressaca estética herdada do Los Hermanos (e dos anos 2000 em geral), em que é preciso ser cool além de bom, e para ser cool é preciso ser introvertido, é preciso ser contido. O carão como forma de vida. Ver Criolo no palco é ver uma entrega diferente, em que a performance inflamada chega por vezes a roçar o ridículo, mas há algo de verdadeiro, ali, que mantém qualquer afetação dentro do domínio do aceitável e, bem, do original. Ainda que o rapper assuma por vezes uma faceta doce demais, gentil demais, calma demais – cool demais – fora dos palcos, dentro dele Criolo se entrega totalmente às suas músicas, e o que já era ótimo (“Bogotá”, “Grajauex”), bom (“Subirusdoistiozin”, “Mariô”) ou regular (“Samba Sambei”, “Sucrilhos”) melhora ainda mais. Eu tenho lá minhas teorias meio furadas, de que o que faz essa performance visceral no palco funcionar talvez seja o fato de Criolo vir do hip hop e por isso ter uma relação mais intensa com o que escreve e canta. Mas, sei lá, viu, soa meio estranho isso. A verdade é que não sei.

Do que sei é que Criolo juntou consigo um time impressionante de músicos, tocando músicas com ótimos arranjos, que é um rapper com um flow impressionante, perfeito para ser cantado e seguido, ao mesmo tempo em que é um dos melhores cantores da sua geração, com energia e carisma suficientes pra arrastar pequenas multidões, como fez nos últimos shows no Brasil. Como geralmente acontece a quem vem por essas bandas, a sua turnê na Europa serve como divulgação da sua música no exterior e consolidação de um grande momento na sua carreira no Brasil. Há um ano, Criolo juntava pouco mais de 300 pessoas em Brasília. Dez meses depois, eram mais de dez mil, na mesma cidade. Vejamos o que acontece daqui pra frente.