The Radio Dept. @ Teatro Odisséia (08/07/2012)

Até a natureza conspirou para tudo dar certo: depois de muitos dias de calor no inverno, o Rio de Janeiro finalmente viveu um dia de frio na estação, possivelmente trazido pela banda sueca Radio Dept., pela segunda vez no Brasil mas estreando em palcos cariocas. A iniciativa também marcou a estreia, no Rio, da paulistana Playbook, empresa que utiliza o mesmo esquema de crowdfunding do Queremos para bancar shows com o apoio do público. E começaram acertando em cheio: enquanto o Queremos concentra as atividades em artistas que enxerga rentabilidade, numa casa de médio porte que precisa de um custo grande de produção e resposta de público equivalente, o Playbook investiu no pequeno Teatro Odisséia, com uma pequena mas consolidada banda que só teria força mesmo para encher a outrora simpática casa de shows (qual foi a última vez que tivemos um show bom por lá? Dirty Projectors?). É uma esperança para que outros bons shows, como os de Dinosaur Jr. e White Denim, passem pelo Brasil com escala no Rio.

A única coisa que parecia não estar no lugar certo era a banda de abertura, Tipo Uisque, provavelmente formada por integrantes de algum reality show musical do Multishow. E, convenhamos, o deslocamento é o menor dos problemas da banda carioca. Naquele momento, a maior atração era Arnaldo Cezar Coelho, inexplicavelmente, fotografando o show. Quando saíram do palco, o DJ da finada Maldita, local onde grande parte do público presente conheceu o Radio Dept., tratou de retomar o clima do início com um set que certamente deixou muita gente na platéia saudosa de uma das melhores festas da cidade. Tocando ali, numa casa que também enveredou por um caminho mais comercial, aquelas canções fizeram lembrar de um tempo em que a noite do Rio ainda reservava espaço para pessoas adultas.

Já atração principal se confundia até com o público. O palco só tinha espaço para Jonhan Ducanson, o tímido vocalista e mentor, e o gigantesco Martin Calberg, mais extrovertido (até por falta de opção). Falando pouco e falando baixo, Ducanson parece ser mesmo o personagem introvertido e pacífico que as letras do Radio Dept. indicam. Num set curto mas eficiente, os dois eram acompanhados por programações eletrônicas que compensavam o número mínimo de integrantes no palco. Com a chuva dando trégua no horário próximo ao show, uma casa quase cheia também apresentava certa timidez, contrastando com o público do Queremos, notadamente mais jovem e, perdoem a piada fácil, empolgado. Um corinho tímido, como não poderia deixar de ser, surgiu em “1995”, destaque do primeiro LP “Lesser Matters”.

O títula da coletânea de singles, “Passive Agressive”, resume o material que o trio mostrava no palco, misturando o início ainda super inspirado nos clássicos shoegazers, como “Why Won’t You Talk About It?” e “Keen On Boys”, passando pelo sintetizadores pesados da fase “Pet Grief” (que inclui uma das mais festejadas pelo público, “The Worst Taste In Music”) e terminando no já aprimorado “Clinging To A Scheme”, álbum representado pelos quase hits “David”, “Never Follow Suit”, “A Token Of Gratitude” e a mais festejada da noite “Heaven’s On Fire”. O set terminou apropriadamente com “Closing Scene”, com a banda ainda retornando para tocar “Lost and Found”, do primeiro disco.

Veja o trecho da apresentação em que a banda toca “The Worst Taste In Music”, no YouTube: