“It feels good to sweat”. Na tradução livre do Fita Bruta, algo mais ou menos como: “É maneiro dar uma suada”. Foi essa a frase mais eloquente de um James Mercer visivelmente contente, mas, como sempre, comedido, na última segunda-feira, 26 de março, no Bataclan, em Paris. Uma frase como essa, no contexto daquela agradável noite de 20ºC, pode representar duas sensações diferentes, mas concomitantes. A primeira e mais óbvia: é bom, é maneiro estar nesse calorzinho, de uma Paris à beira da primavera, dado que o grupo acaba de vir de Portland, Oregon, onde, segundo o próprio cantor, nevava. E a segunda sensação, mais circunstancial, mas não menos verdadeira, considerando que a casa de shows estava ligeiramente abafada: é bom, é gostoso voltar aos palcos e sentir o calor do público.
Depois de praticamente cinco anos sem lançar um disco e alguns shows espalhados, vemos um grupo – em especial Mercer, claro – visivelmente feliz em tocar suas novas músicas, que dominam mais da metade do show, enquanto seguram a plateia nas canções dos discos anteriores. Com um bom disco recém-lançado, é interessante acompanhar ao vivo esse momento em que as músicas novas não são tão conhecidas – ainda que tenha havido quem já cantasse a nova balada September – e perceber como Mercer e companhia detêm seu público na palma das mãos.
No show também se torna mais clara a posição na qual o The Shins se encontra (ou parece encontrar-se, tudo depende do desempenho do novo álbum perante o grande público): uma transição de culto cult (risos), um grupo muito amado por relativamente poucos, para o status de grupo mais conhecido e reconhecido, uma banda mais pop que alternativa, digamos. As novas músicas ajudam: são mais diretas, mais acessíveis: mais pop, não há outro adjetivo melhor; e essa característica se acentua quando colocadas ao lado das canções dos discos anteriores. O que diferencia o The Shins de outros tantos grupos indie com marcas pop é justamente um cuidado especial com os detalhes, os efeitos, e isso ao vivo se mantém admiravelmente, em especial nas guitarras de Jessica Dobson (linda e irrepreensível, a propósito).
Outro ponto a se destacar é a voz de James Mercer. Afinadíssimo, segurando as notas altas com firmeza e segurança, Mercer completa com sua voz uma transposição quase perfeita do The Shins dos estúdios para aquele dos palcos. Com tantos acertos e poucos erros, com um disco em divulgação que mantém a qualidade dos anteriores, com o tempo longe dos palcos e a espera do público a seu favor, o The Shins tem a apresentação bem ali, nas suas mãos. E como nos discos, não fica aquém do esperado, jamais decepciona.
- So Says I
- Mine’s Not a High Horse
- Simple Song
- Bait and Switch
- Australia
- Marisa
- Phantom Limb
- Sphagnum Esplanade
- Saint Simon
- September
- Kissing the Lipless
- It’s Only Life
- Caring Is Creepy
- The Rifle’s Spiral
- New Slang
- Sleeping Lessons
- Young Pilgrims
- Port of Morrow
- One by One All Day