No Estúdio: Sol Na Garganta Do Futuro

Quem: Sol Na Garganta Do Futuro
Álbum: “No Meio De Tudo: Espaço”
Quando: 18 de maio
O que já dá para ouvir: “Casa Tomada”, “Maquinas de Som” e, com exclusividade, “Das Pulsações”

por Ana Luiza Calmon*

“No meio e tudo: Espaço”. Assim intitulado, o primeiro álbum do Sol Na Garganta Do Futuro (sim, do poema de Ferreira Gullar, “Meu povo, meu poema”) propõe uma viagem sonora junto a um debate sobre a atual vida urbana cercada pela arquitetura e o urbanismo.

Natural do Espírito Santo, o Sol Na Garganta é formado por Fabricio Noronha (voz e composições), Vinícius Fábio (contrabaixo, voz e ruídos), Hugo Reis / Gil Mello (guitarra, violão e viola caipira), Caio Nunes (bateria), Murilo Esteves (projeções), Alex Cepile (sampler e sintetizador) e Perez Lisboa (iPad), do Joe*Zee. Além de Amélia Barretto, Aline Hrasko e Tati Mancebo nos backing vocals.

Atuante no cenário musical capixaba há quase 11 anos, o Sol Na Garganta surgiu em 2001 depois de algumas noites de diversão entre amigos de escola, “regadas a vinho barato, conversas à toa e alguns experimentos tecnológicos de apartamento. Dai saíram as primeiras experiências de juntar música e poesia”, comenta Fabricio Noronha. O grupo – que prefere não se intitular como banda – flerta com o rock e o eletrônico, namora a poesia falada e dança com as artes visuais em uma música que vai além do palco, que visa transcender a sonoridade e se expandir inclusive para o cinema. “Pensar uma música, um show, uma experiência é pensar o filme disso, num sentido amplo. É a música sendo cenário, atmosfera para uma construção de viagem, de mergulho do espectador”, frisa.

Todo o trabalho produzido pelo Sol na Garganta circula livremente pela Internet, sob a licença Creative Commons, cuja ideia de música livre sempre defenderam. As influências musicais e poéticas vêm de todos os lados, e já começam pelo nome do grupo, sob a paternidade de um poema de ninguém mais que Ferreira Gullar. Entre as parcerias, vale ressaltar o CEP 20.000, Centro de Experimentação poética carioca fundado em 1990 por Chacal e Guilherme Zarvos.

“No Meio De Tudo: Espaço”, primeiro álbum do grupo, já está pronto. O disco foi produzido por Daniel Castanheira no estúdio Garimpo, no Rio de Janeiro. Segundo o vocalista Fabricio, ele não é “um cartão de visita para o Sol Na Garganta, um disco comercial. Ele é uma ‘foto’, um registro de toda a trajetória do grupo. Tem como base toda essa loucura, esse projeto de cidade que o homem construiu, esse novo modelo de vida contemporâneo. É bom a gente debater e também celebrar algumas coisas interessantes desse modo de vida.”

O grande desafio foi levar a magia do ao vivo das apresentações do grupo para um disco gravado. “Por sermos muito ligados à questão da performance no palco, sempre pensamos muito na presença cênica, projeções, figurino”, observa. O resultado é uma viagem para ser escutada. As dez faixas presentes são uma miscelânea de músicas recentes com produções antigas, como em “Das Pulsações”, de autoria do poeta capixaba Marcos Tavares. “Em um momento do CD começa uma massa sonora, uma mistura de produções antigas. De repente entra a flauta, a bateria, os samples, junto à poesia falada. É meio que uma viagem sonora”, conclui o vocalista e letrista.

Mesmo com o álbum finalizado, o lançamento será em maio. Porém, foram divulgadas duas faixas que, segundo Fabricio, “carregam aspectos diferentes pelo menos na sonoridade. “Casa Tomada” é a que abrirá o disco, soturna, tensa, baseada no conto homônimo do Júlio Cortázar. A outra, “Máquinas de Som”, é uma versão de uma canção do compositor paulista Pedro Paulo Rocha, com participação de várias vozes: Amélia Barreto, Aline Hrasko, Tatiana Mancebo e Ava Rocha (irmã do Pedro)”. E para você dar uma espiadinha, o Fita Bruta divulga não somente essas duas faixas como também disponibiliza, com exclusividade, a bela e pulsante “Das Pulsações”.

O lançamento oficial do disco será no dia 18 de maio no Theatro Carlos Gomes, em Vitória, Espírito Santo. Depois, o caminho continua a ser percorrido. Turnês, participação nos Festivais de Música Livre e até a produção de uma versão em vinil do disco surgem como os próximos passos. Por toda a obra, porém, o debate da cultura livre – inclusive em sua estética – continua sendo a bandeira defendida pelo Sol na Garganta desse futuro.

Ouça “Máquina de Som”

Ouça “Casa Tomada”

*jornalista das rádios Gazeta AM e Litoral FM e colaboradora do Fita Bruta