Com seis prêmios, Adele é soberana no Grammy

Na entrega dos troféus do Grammy deu o esperado: Adele. Não era nem expectativa, reinava a certeza de que a cantora não teria rivais fortes o suficiente. Ganhou os prêmios mais disputados da noite — melhor álbum, gravação e música; “21” também foi considerado o melhor álbum no segmento pop; ela fatorou “melhor performance individual” com “Someone Like You”; e ainda veio de brinde um prêmio para o clipe de “Rolling in the Deep”.

Em uma noite de prováveis vitórias, a dúvida só pairava quanto a recuperação dela após a cirurgia nas cordas vocais. Num dos números musicais mais aguardados, ela cantou “Rolling in the Deep” sem tropeçar, sua voz continua exuberante e a música sobreviveu ao repeat infernal das rádios. Um porém apenas, talvez seja pelo nervosismo ou medo, mas a execução pareceu um pouco lenta. Adele passou um certo medo de cantar o “roooling in the deeeeeeeeeep”, a gravação que está na cabeça do mundo inteiro é um pouco mais enfática do que o show de ontem a noite. Isso provavelmente é excesso de critério meu. De qualquer forma, o que ficou mais evidente é a força que ela tem e vai continuar exercendo.

Quem se deu bem também foi o Foo Fighters com cinco prêmios. Atropelou os concorrentes na categoria rock e ainda beliscou um no metal. Dave Grohl e cia. formam a “banda mais legal do mundo”, mais unanimes do que deveriam ser. Carisma, pegada classic rock, presença de palco e memória afetiva dos hits da década de 90. Tudo isso junto com o esforço do Dave em… parecer legal dá um status enorme pra banda. Sinceramente, “Wasting Light” e seus singles são bem regulares mas não merecem os superlativos. A promessa é de um grande show no Lollapalooza, eu vou e não ficarei de braços cruzados, só sou contra o exagero com a moral dos caras.

Maior papagaio de pirata da história da música (proj. Bernardo Barbosa), Dave compareceu em todos as indicações que a banda levou, inclusive nas mais pobrinhas do pre-telecast. O FF tocou “Walk”, “Rope” com a participação bizarra de Deadmau5 e Dave surgiu no palco com Bruce Springsteen para acompanhar Paul McCartney. Como se não bastasse tanto, ele ainda ficou estrategicamente posicionado atrás de Paul.

Kanye West ignorou o Grammy. Levou dois prêmios por “All of the Lights”, um pelo álbum “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” e outro pela parceira com Jay-Z no The Throne. Em noites de premiações ele geralmente se faz notar por visual e atitude, roupas extravagantes e destempero nas relações políticas. A ausência de Jay-Z é justificável, afinal o cara acabou de ser pai. Kanye deixar  a badalação totalmente de lado é novidade.

Um dos grandes trunfos do Grammy era o retorno dos Beach Boys com Brian Wilson. Brian parecia um pouco injuriado com as duas verões terríveis que suas músicas receberam de Maroon 5 e Foster The People, mas mesmo assim foi mágico. Tocaram “Good Vibrations” (vídeo via Diego Maia) e encantaram a todos. A banda de velinhos está em boa forma e deve fazer uma grande turnê, tomara que passe pelo Brasil.

Representante da ala indie, Bon Iver fatorou  “artista revelação”. Muito feliz e surpreso, Justin Vernon recebeu o prêmio com um discurso tão deslumbrado que só usou expressões de lugar comum. Para quem não ligava pro Grammy, Justin pareceu ter mudado de ideia. O álbum homônimo lançado ano passado foi escolhido como o “melhor alternativo”.

Em todos os intervalos anunciava-se um número espetacular de Nicki Minaj. A gente até achou que ela merecia ganhar alguma coisa, mas não rolou. E o pior, ela ainda pagou um mico gigantesco. Apareceu no tapete vermelho acompanhada de um padre, e seu número musical foi baseado num exorcismo. Uma cena dantesca que não merece ser vista de novo, procure por sua conta em risco.

Já Paul McCartney é investimento certo. Apresentado por Stevie Wonder, tocou um dos temas presentes no disco “Kisses on the Bottom”. Bom de ouvir, mas não espetacular como a surpresa que ficou para o final. Depois de uma bonita homenagem de Jennifer Hudson à Whitney Houston fechar o penúltimo bloco com uma falsa sensação de fim, Paul foi encarregado para o show derradeiro da noite. E a escolha não poderia ser mais alto astral: Abbey Road Medley, de “Golden Slumbers” até “The End”. E para o solo final de “The End” contou com Dave Grohl, Joe Walsh e Bruce Springsteen, de certo uma passagem para lembrar com carinho.

A industria está meio falida, mas eles continuam dando boas festas. Necessário o tributo à Whitney Houston, mas foi um pouco sacal. Nada é pior que a seleção country norte-americana, mas vai, tudo bem colocar no mudo de vez em quando. Bruno Mars provou mais uma vez que é bom de palco, com menos músicas lentas e mais investidas no ritmo ele consegue ficar maior do que já é.

Premiações de música ou cinema seguem um roteiro e poucas vezes surpreendem. Acompanhar o Grammy é um pouco disso, olhar da janela a festa do amigo, e também um tanto divertido pelas situações presenciadas e a torcida particular pelos ídolos. Fútil e puramente ocioso, mas que entretêm os curiosos afim de curtir.

Veja a lista dos principais vencedores abaixo, para lista completa entre no site oficial:

  • Gravação do ano: Adele, “Rolling In The Deep”;
  • Álbum do ano: Adele, “21”;
  • Música do ano: Adele, “Rolling In The Deep”;
  • Artista revelação: Bon Iver;
  • Álbum alternativo: Bon Iver, “Bon Iver”;
  • Música – Rock:  Foo Fighters, “Walk”;
  • Álbum – Rock:  Foo Fighters, “Wasting Light”;
  • Música – R&B: Cee-Lo Green, “Foo For You”;
  • Álbum – R&B: Chris Brown, “F.A.M.E.”;
  • Música – Rap: Kanye West, “All of the Lights”;
  • Álbum – Rap: Kanye West, “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”;
  • Produtor do ano: Paul Epworth (Adele, Cee-Lo Green e Foster The People).