AIR | Le Voyage Dans La Lune

AIR

Le Voyage Dans La Lune

[EMI; 2012]

5.0

ENCONTRE: Site oficial

por Livio Vilela; 27/02/2012

O rótulo “power pop” não poderia caber pior no AIR e, no entanto, a dupla francesa tem aquela característica única das bandas do gênero de fazer sempre o mesmo álbum com uma ou outra nuance diferente. Se o nível das composições tende a variar, é bem possível que a este ponto – mais de 15 anos de carreira e 7 discos lançados, sem contar os extras – todo mundo saiba bem o que vá encontrar num novo trabalho de Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel. Trabalhando sempre de uma maneira bem francesa (sofisticada, cool e outros adjetivos que reflitam “status”), a dupla refez desde seu álbum de estreia o pop clássico ocidental, na visão mais aberta possível. Essa abertura conceitual – pode-se tudo, desde que com classe – mostrou logo num segundo momento (“10.000 HZ Legend”) o que viria a ser o grande desafio para dupla: como achar diversão e novidade num mundo (a música) onde nós (eles) já parecemos ter visto tudo?

Embora a dupla já tenha respondido a essa pergunta de formas bem interessantes no passado (a deliciosa e sombria trilha de “Virgens Suicidas”, o suave e bonito “Talkie Walkie”), em “Le Voyage Dans La Lune” Godin e Dunkel parecem ter tantas possíveis respostas na ponta da língua que mal conseguem colocar tudo no papel. É um álbum curto (pouco mais de meia hora), que tenta demais e acerta de menos.

A coincidência não-intencional des títulos lunares do primeiro e mais celebrado álbum e desse disco explica melhor o problema. Em 1998, o AIR definia sua jornada como um safari, uma escapada perfeitamente segura, mas com um mínimo senso de aventura e risco. Em 2012, tal qual um casal que permaneceu unido por tempo demais, a dupla nos conduz por uma viagem com passagens de ida e volta compradas, com tudo extremamente planejado e roteirizado.

Em termos de sonoridade, a dupla mistura em partes mais ou menos iguais a austeridade de estátua de cera (ah, os franceses e suas ironias) de “Pocket Symphony” (2007) com os tons orgânicos do descompromissado “Love 2”. Estruturalmente, o fato de ser moldado como uma trilha sonora faz “Le Voyage Dans La Lune” ser um disco de temas e não de canções, e, mesmo quando essas surgem com a ajuda de Victoria Le Grand (“Seven Stars”) e Au Revoir Simone (“Who Am I Now?”), fica a impressão que o AIR nunca consegue estar a altura de suas primeiras pretensões.

Talvez seja falta do acompanhamento imagético – não vi o filme de George Méilès que o disco sonoriza -, mas o que grita durante a audição de “Le Voyage Dans La Lune” é como em cerca de uma década o AIR conseguiu soar completamente desimportante. Ainda que som e as ideias propostas “Moon Safari” sejam um dos pilares dessa nova geração de compositores de laptop (Washed Out, CFCF, Toro Y Moi, Memory Tapes), a dupla parece tão presa numa rotina quando o personagem de Bill Murray em “Feitiço do Tempo”. Na lua do AIR, o despertador parece destinado a sempre acordar às 6 horas do dia 16 de janeiro de 1998.