Bahamas | Barchords

Bahamas

Barchords

[Brushfire Records; 2012]

4.8

ENCONTRE: Brushfire Records

por César Márcio; 01/03/2012

Estava em todo lugar, então o leitor provavelmente viu: num “experimento sobre percepção, gosto e prioridade”, um violinista apareceu, sem aviso, numa estação de metrô em Washington e tocou uma peça de grande dificuldade para ganhar nada mais que o desprezo de todos os transeuntes. E, MEU DEUS QUE SURPRESA, o violinista era o virtuose Joshua Bell, o instrumento custava mais de 3 milhões de dólares, e um show do camarada na cidade estava com ingressos (alguns custando mais de 1000 dólares) esgotados.

A experiência do Washington Post mostrou, em 2009, o que todo mundo sabe: pessoas mudam o seu olhar crítico em relação à certa manifestação em conformidade com o ambiente em que esta é apresentada. Existem diversos exemplos na música e na crítica musical de hoje e basta abrir os “segundos cadernos” e as “ilustradas” para percebê-los. Essa “nova crítica” da internet, possivelmente livre e desimpedida, poderia oferecer novas possibilidades porque é, forçosamente, nova. Mas essa é filha da outra, criada pelas pessoas do metrô, que somos nós, também. Ou seja, não tem para onde fugir: tirando raras exceções, a percepção musical dos novos espaços ainda está ligada a velhos padrões, mais notadamente, a imagem.

Essa introdução é para falar sobre Jack Johnson. Ele tem um ”projeto” chamado Bahamas. Nesse “projeto” ele finge ser um violonista canadense que tocou na banda da Feist. Esse “projeto” já ganhou um prêmio, canadense, é claro, chamado Juno. Esse plano ardiloso foi criado porque, apesar de vender milhões de discos e arrastar outros milhões de mulheres com bundinha de francesa para os seus shows, Jack Surfistinha não encontrava espaço nos “alt reports” da internet.

Só que ele nem quis ter muito trabalho para esconder sua identidade original: “Barchords” sai neste mês pelo selo de Johnson, o Brushfire Records. E como se isso não fosse lá muita bandeira, o cantor nem faz muita questão de disfarçar a voz, a mesma de seus sucessos como Jack Johnson, o Rei da Praia. Apenas sob pretexto de release, esse disco do surfista-cantor será creditado a Afie Jurvanen. Contudo, temos aqui a mesma música, a mesma voz, o mesmo selo, a mesma preguiça, com uma guitarra torta aqui e ali, para quem busca “Canadá”, “Feist” e “Pitchfork Media” não se sentir muito deslocado.

Era esperado que a farsa fosse revelada já no primeiro disco do Bahamas, mas chegamos ao segundo e nada. Porém, isso não quer dizer que Afie Jurvanen exista, de verdade. Ele é Jack Johnson, só que essa reportagem do Washington Post deve demorar um pouco mais para sair.