Bear In Heaven | I Love You, It’s Cool

Bear In Heaven

I Love You, It’s Cool

[Dead Oceans; 2012]

4.5

ENCONTRE: Dead Oceans

por Diego Fagundes; 02/04/2012

“I Love You, It’s Cool” é um disco com uma proposta explícita. Já está tudo dito pela capa e pelo título: a psicodelia meio industrial sugerida pela profusão de manchas coloridas (um som metálico borrado, com limites que se vão desfazendo no eco como cores que se misturam e viram outra coisa), as bolotas de cor talvez um pouco orgânicas (o bom e “velho” organicismo dos anos 2010, a sensação de que se está ouvindo o som amplificado de uma bactéria alienígena), “Bear in Heaven” em letras quebradas e mal escritas (novamente o som borrado, aqueles efeitinhos de distorção mais porca) e, por fim, o nome (é um disco de amor).

Como as músicas se mantêm fiéis a esta proposta desde o primeiro momento, já dá pra imaginar os blogs de música dizendo que se trata de um disco “competente”, “bem executado”, etc… Um disco que “tem uma cara”. Mas, ainda que aceitemos que se trata de um disco “bem executado” (isto é, que segue a cartilha moderninha de execução, que situa os elementos sonoros de maneira que eles façam sentido segundo essa cartilha, e que realiza tudo o que se espera dele – ainda que realize apenas isso, como costuma ser o caso), isso não diz muita coisa sobre a beleza da obra. Quando se deixa de lado os elementos mais propriamente “técnicos” e se presta atenção na espinha dorsal das composições, “I Love You, It’s Cool” aparece como um esforço que tem seus poucos momentos de inspiração eclipsados pela necessidade de preservar uma atmosfera de som singular e consistente (outro adjetivo que deverá ser usado pra qualificar o disco internet afora). No resto do tempo, o disco é uma coleção repetitiva de pequenos lugares comuns, tentativas forçadas e até artificiais de emular um ou outro gênero musical (a pseudo vibração dançante de “Kiss Me Crazy”, por exemplo).

A impressão de consistência forçada e ênfase numa produção que esconde o caráter propriamente raso da obra vai ficando cada vez mais clara (e a experiência vai ficando mais e mais cansativa) na medida em que se percebe que cada música em “I Love You, It’s Cool” tenta reproduzir a mesma fórmula da anterior e confia sempre nos mesmos elementos e sacadinhas cosméticas para fazê-lo. Como não podia deixar de ser, o resultado é uma audição embotada pela sensação de que o disco simplesmente não termina. Mesmo quando Jon Philpot acerta um fraseado mais inspirado (como é o caso da bela melodia de “The Reflection of You”, que deve tanto aos Smiths), a produção insiste naquele excesso e os elementos continuam soando forçados.

“I Love You It’s Cool” foi feito para 2012. Tem os trejeitos e a substância de seu tempo (em vários sentidos diferentes). Existe uma identificação clara entre este e outros discos compostos pelo mesmo impulso “do momento” (o último do M83 seria uma menção óbvia; a estrutura das canções do Cut Copy, também). Philpot tem seu talento, e já teve a oportunidade de deixá-lo vir à superfície em outros momentos de sua carreira. Neste disco, porém, ficamos com a sensação de que o tratamento cosmético da produção soterrou boa parte da criatividade possível.