BNegão & Os Seletores de Frequência | Sintoniza Lá

BNegão & Os Seletores de Frequência

Sintoniza Lá

[Coqueiro Verde; 2012]

8.0 FITA RECOMENDA

ENCONTRE: ONErpm

por Yuri de Castro; 24/05/2012

O que é certo é sem caô. Não poderia ser mais carioca no despojamento e menos estereotipado em suas composições o novo álbum de BNegão ao lado de sua banda, Os Seletores de Frequência. E é um caminho complicado de acertar quando o assunto é o rock e o hardcore (ora funky, ora jazzy e ora cru em seus estilos e influências) a que se propõe Bernardo desde o seu debute, em 2003, chamado Enxugando Gelo”.

Há uma polaridade na genealogia da família hemp que até hoje é estrelada por Marcelo D2 e BNegão, ainda que o declínio cult da carreira de D2 tenha abafado a troca de farpas de ambos os lados. Com o fim da ex-quadrilha da fumaça (pra quem não se lembra ou não viveu, a banda foi um dos destaque da ala Sudeste nos 90s, fazendo concorrência mercadológica e também na aproximação do rock e do pop para com a música brasileira à artistas como Chico Science & Nação Zumbi), D2 assumiu (bem) a sua busca por um hibridismo pop entre rap e samba e BNegão dividiu-se entre The Funk Funkers, Turbo Trio, Loucomotivos e outras parcerias para, no meio disso tudo, gravar oficialmente sua poética de voz e letras graves – e com influências outras que não as percebidas no Planet Hemp.

“Sintoniza Lá” chega em 2012 trazendo uma contradição ao que BNegão chama de “memória jamaicana“; afinal, não parece ser tão desleixada assim a percepção de Bernardo sobre a sua própria carreira. Seu segundo álbum é resultado imediato – e dilatado – do que construiu musicalmente, militando em um rico círculo de amizades e agregando o que podia nos seis anos de um suposto atraso que sofreu o álbum. Com isso, “Sintoniza Lá” cria um forte laço na carreira do cantor que, aliás, indevidamente, é sempre enquadrado em apenas um posição de front quando, na verdade, passeia facilmente pelas personas de mestre de cerimônia, entertainer e rapper.

Carregando consigo muito mais do que 11 faixas de estéticas claras por causa de sua coerência anterior, BNegão leva para sua discografia o mérito de prometer e cumprir, como em uma dissertação que se preze – mesmo que os temas possam soar genéricos ou cansativos, como acontece em uma proposta de redação para vestibulandos. No entanto, as barreiras que o artista se dispõe a transpôr desde as suas incríveis rimas à época de Planet Hemp (em contraste com as boas, porém, repetitivas sacadas de D2) podem ser consideradas as primeiras brigas com as redomas em que a carreira artística vai se enfiando passo-a-passo rumo a uma certa popularização de seu trabalho.

Se criar fôlego – e vai, “Sintoniza Aí” promete pista de dança (a preços populares, inclusive, esperamos) para os próximos grooves de BNegão.