Bobby Womack | The Bravest Man in the Universe

Bobby Womack

The Bravest Man In The Universe

[XL Recordings; 2012]

7.5

ENCONTRE: iTunes

por Túlio Brasil; 10/07/2012

Feliz a retomada de Bobby Womack em 2012, mais ainda por ela não ser póstuma. Dos 60′ aos 90′, durante a construção de sua discografia, foi da liderança das tabelas ao ostracismo. Consequência de uma vida intensa, frutífera pro hedonismo, em que o corpo não aguenta ou surpreende em desastres — como o câncer recém curado. A grande mão estendida para Bobby foi Damon Albarn, que antes o convidou para gravar “Stylo” (com o Gorillaz, em “Plastic Beach”) e agora aceitou a chamada para produzir o “The Bravest Man in the Universe”, o primeiro álbum de inéditas em 18 anos.

Eloquente num tom sóbrio, Bobby é soberano sobre as bases graves e cruas do disco. Uma trilha melancólica de reflexões reprimidas pelo tempo. Conversar com deus é necessidade acima de qualquer fundamento de fé para o delator crente no perdão alheio como sinal bravura. “Poderia tentar dizer me desculpe, mas não seria bastante”, confessa na bela “Please Forgive My Heart”. Antes, na faixa-título, conclama “o homem mais bravo do universo é quem perdoa antes.”

Rendição assim feita, só o divino pode acatar. E por um sample de Gil Scott-Heron, deus se manifesta por pedinte irônico introdução de “Stupid”, “ele viu deus e lhe foi dito para arrecadar oito milhões de dólares. Deus estava sem grana.” Se até ele tá fodido, não tem consolo. A letra segue numa critica a indústria da fé. O gospel engajado é quase um voto para virar o barco de drama e sensibilidade pro pedantismo, mas a forma das canções preserva um clima sombrio amenizador. Ora intercalando silêncio e piano, ora num voz e violão (“Deep River”).

Richard Russell, produtor com Albarn no álbum, pesa seu estilo nesse estilo. Lembra em coisa ou outra o trabalho feito na produção do último de Gil Scott-Heron, “I’m New Here”. Mais lembrança que citação. “The Bravest…” também acena diretamente com o hype. Lana Del Rey participa sem forçar a barra em “Daygo Reflection”, música smooth na afinidade de sua voz.

Na sequência final, “Love Is Gonna Lift You Up” alegra o pacote com um refrão otimista, já era tempo. Alegria não predomina muito, “Nothin’ Can Save Ya” entristece; “Jubilee” dá a dica de como seria o disco sem a excelente pontuação dos silêncios, agitada e contida nos samples.

Pautadas na convergência do passado Soul/R&B do astro com a eletrônica contemporânea, as ações do álbum são bem sucedidas. Bobby podia estar escondido, decadente jamais. O discurso nas canções é de lamento por algo que passou. Felizmente o talento continua.

A regularidade de “The Bravest Man in the Universe” rende exageros justificáveis por grandes músicas. Mas uma nova sentença assim é tudo que Bobby Womack não precisa. Que ele próprio cante mais depois sobre suas preces, haveremos de ouvir-las novamente.