Cat Power | Sun

Cat Power

Sun

[Matador Records; 2012]

6.9

ENCONTRE: iTunes

por César Márcio; 10/09/2011

Cá estamos nós, novamente, lidando com um artista dizendo-se em fase de reinvenção. Principalmente em música, quando quer marcar oposição ou renovação pessoal, o compositor faz questão de transformar seu momento em poster gigantesco e com Cat Power não foi diferente. Quando disseram que as demos iniciais de “Sun” eram parecidas com muito do seu trabalho anterior, Chan Marshall fez questão de destruí-las. E cortou o cabelo. E chamou seu disco de Sol (porque não queria que fosse Lua, outra vez). E trouxe sintetizadores. E trouxe até Auto-Tune, vejam só. Tudo para deixar claro que o momento é de reinvenção. Tanto trabalho só serviu para evidenciar o quanto “Sun” deve a “Moon Pix”. Nem que deva somente respostas.

E esse é um disco cheio delas. Um disco de respostas óbvias sobre maturidade, em certos pontos, como a preocupação com as mazelas mundiais (depois de “claudinhoebuchechar” nomes de lugares aleatórios – incluindo o Rio – na letra risível de “Ruin”, a cantora se mostra chateada com gente que reclama da vida enquanto outros não tem o que comer. Quase a minha mãe). Mas também é um disco de respostas sobre questões pessoais: afinal, Lana Del Rey está aí para tomar o papel que era dela, uma nova musa da fossa, mesmo que para isso tenha que transformar “Moon Pix” em comercial de perfume.

Por ser tão ressentido, “Sun” evoca as passagens do objeto de oposição mesmo sem querer. Não é surpresa que o momento mais, errr, ensolarado deste álbum seja “Cherookee”, faixa que lembra insistentemente “Cross-Bone Style”, hit de 98. Mas as semelhanças estéticas param por aí. Na sequência, apostando em composições guiadas por sintetizadores e beats, o disco aproxima Marshall da modernidade fajuta de uma penca de cantoras bizarramente similares entre si, mas, para a sua felicidade, também revitaliza seu já marcante modo de cantar e compor.

Dessa maneira, o disco corre irregular, alternando um surpreendente blues desordeiro como “Silent Machine” com a puerilidade de “Human Being”. Essa irregularidade parece inerente a um disco que quer se afirmar maduro e feliz ao mesmo tempo, um trabalho que se permite infantilizar (o quase hip-hop “3, 6, 9”) e posar de conselheiro (a pretensiosa e esquisita homenagem a filha do seu ex-namorado “Nothing But Time” com citações explicítas – líricas e musicais – a “Heroes” de David Bowie) em questão de minutos. “Nothing But Time” e “Silent Machine”, embora fortemente distintas em aproximação e resultados, são, de fato, indicadores de reinvenção num disco que quase sempre restringe o termo a uma troca de elementos orgânicos por eletrônicos.

Vai ver “Cat Power” levou a sério demais seu pseudônimo e achou que seu sétimo álbum de inéditas fosse seu último. Sua sétima vida, “Sun”, ficou com cara de testamento, como se quisesse dizer tudo porque não tem mais tempo de dizer nada. E para nós, donos de uma vida só, o resultado ficou um pouco confuso. Curioso e atraente, como Chan Marshall sempre é, mas confuso.