Chairlift | Something

Chairlift

Something

[Columbia; 2012]

7.1

ENCONTRE: In Sound

por Matheus Vinhal; 06/02/2012

A fofoca é um bom jeito de começar a falar sobre o novo trabalho do Chairlift, o disco chamado “Something”. Mas só começar. Com o fim do relacionamento entre um dos criadores e definidores do som do grupo, Aaron Pfenning, e a vocalista Caroline Polachek, o Chairlift se encontra em uma situação ainda mais intermediária como banda. “Something” pode ser visto, nesse sentido, como um bom exemplo tanto do fim do relacionamento de um casal que era a base musical de um trio, agora uma dupla – um enfoque mais pessoal sobre o disco, portanto – como também pode ser visto como produto da saída de Pfenning do grupo – um enfoque mais sonoro, digamos.

A posição intermediária, a propósito, é uma das características da música produzida pelo Chairlift. O grupo jamais adota um caminho sonoro por demais experimental, ao mesmo tempo em que suas opções por uma sonoridade mais pop nunca são o suficiente para de fato estourar. Um bom exemplo disso é o fato de “Bruises”, do primeiro álbum do grupo, ter sido veiculada no comercial de lançamento de uma das gerações do iPod Nano e ainda assim o grupo não ter sido escolhido pelo hype. Ou, ainda, a famosa frase (provavelmente cunhada por Pfenning) de que o Chairlift fazia “música de fundo para casas mal-assombradas” – uma frase de efeito tão enganosa quanto pop, para um produto que, em tese, teria algo de realmente experimental.

Em resumo, “Something” mantém essa impressão de “meio termo” do Chairlift: é algo (bem) próximo do pop, com melodias acessíveis e a voz marcante de Polachek, mas que se permite um experimentalismo controlado, em especial nos acompanhamentos e detalhes. Estruturalmente, a música produzida pelo duo é de fácil acesso, mas a produção se dá ao luxo de se aventurar um pouco. Mas só um pouco mesmo. O resultado disso é um disco interessante, principalmente considerando a faceta mais pop do disco, já que o experimentalismo é mais um acessório que outra coisa.

Levando esse método em consideração, “Something” se mostra mais completo em faixas como “Sidewalk Safari”, “Amanaemonesia” e “Ghost Tonight”, que apresentam melodias facilmente memoráveis, ao mesmo tempo em que as guitarras, sintetizadores e backing vocals apresentam certa novidade retrô. Pensando dessa forma, “Something” apresenta de fato grandes similaridades com álbuns dos anos 1980, seja no uso de timbres que remetem à época, seja por ser um álbum de boas canções cercadas de fillers por todos os lados. De fato, parece que o Chairlift se interessa mais em produzir bons e interessantes fillers que pareçam advindos diretamente dos anos 1980 do que efetivamente produzir a trilha sonora de uma casa mal-assombrada.

Tudo isso posto e com o perdão do trocadilho, “Something” é qualquer coisa de bom – quite something, diria o gringo. E considerando que, segundo minhas rigorosas contas, 90% da música – seja mainstream ou “independente” – produzida no nosso tempo apenas engane o ouvinte nas suas experimentações fajutas, às vezes é bom se deixar levar pelo som do Chairlift. Mas só às vezes.