Chris Brown | Fortune

Chris Brown

Fortune

[RCA; 2012]

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ENCONTRE: iTunes

por Yuri de Castro; 11/07/2012

Aos 2:30 da terrível “Sweet Love”, mais do que auto-tune, é possível ouvir o verdadeiro wilhelm scream. Tão genérico quanto famoso, este efeito se popularizou no cinema e, mesmo original da década de 50, continua sendo inserido em vários filmes contemporâneos, por capricho dos diretos e sonoplastas. É o seguinte: se o cara caiu de uma ribanceira ao ser acertado por uma bala, há uma chance relativamente grande de sua queda ser sonorizada com esse efeito.

Então, voltando ao assunto, o que é uma lástima (pois eu poderia falar mais pra vocês sobre como a história desse efeito se confunde com a história do cinema) se você pegar a referida faixa do álbum “Fortune”, de Chris Brown, você conseguirá ouvir não o efeito original, mas o puro engano e perda de tempo que é a música de Brown e seus parceiros megalomaníacos do hip-hop e do rhythm and blues. “Fortune” é uma metralhadora de bobagens; uma síntese de como é ruim a música pop de clube/boate (seja hétero ou gay o público alvo da casa). Há flerte bobo como praticamente todos as vertentes da música eletrônica que pisca nas luzes cafonas das boates (“casas”, para usar o termo metropolitano) brasileiras que importam tudo aquilo que os jecas internacionais se amarram. Para abarcar o máximo de gente se faz genérico. É estritamente genérico — e este termo, hoje, se confunde com música pop (um acerto conceitual, um erro artístico).

Uma faixa no álbum de Chris Brown corresponde a um produtor diferente. O jogo é assim desde a virada do século com a importância dos produtores emergindo em um contexto de boy e girl bands e artistas esvaziados de talento e domínio da produção. “Fortune” é inaudível, constrangedor. Um aglomerado de desesperos de uma nação que a todo momento parece ter força incrível para criar personagens, mas que não mais consegue perdurá-los como modelo de qualquer tipo de comportamento. O consumo, ora um grande aliado dessa forma de operar, é agora quem parece desafiar qualquer conteúdo artístico dos norte-americanos. Afinal, eu preciso do Chris Brown cantando e dançando pra vender o tênis que o Chris Brown usa? Talvez uma ida à Oprah seja mais eficaz. E tem sido.

A música pop já negou-se como música muitas vezes para ser tratada como espetáculo. Não há crime nisso. Mas crescemos já tão envoltos nesse processo que passa-nos batido a diluição e a esperteza um tanto flácida de quem opera esse tipo de expressão artística. No final, Chris Brown, Michel Teló e Jorge & Mateus jogam os mesmos dados – mesquinhos, você dirá. Pode ser. Brigas de escritórios, empresários gananciosos, discos repletos de faltas… No entanto, na pior das hipóteses, o conteúdo pop exercido por peças daqui soará sempre mais pertinente a nós do que qualquer resido próximo a esses encontrados em “Fortune”. Se for preciso e necessário pra sua vida, absorva as influências que Teló e Cia lhe oferecem de forma pulverizada. Deixe o lixo pop americano para os americanos. Oxalá os sofás e as entrevistas dos programas de Oprah e Ellen DeGeneres tragam mais lucros que a expressão artística de todos os envolvidos nesse processo. Deus abençoe a América.

PS: para maior dinamização da sua ojeriza, separei aqui o nome de todos os produtores do álbum. Assim, se você uma dia se deparar com um deles (o que pode, inclusive, não acontecer tamanha fulgacidade da obra de todos eles) em algum encarte, fuja: Adonis, Alle Benassi, Benny Benassi, Boi-1da, Catalyst, Dallas Austin, Danja, Dante Jones, Dayvi Jae, Free School, Fuego, H Money, Jerome “J Roc” Harmon, Tommy Hittz, Jonas Jeberg, Dante Jones, Brian “BK” Kennedy, Kevin McCall, Jason “JP” Perry, Polow da Don, Pop Wansel, R.A.P. 1220, Tha Bizness, The Messengers, The Monarch, The Runners, The Underdogs, William Orbit. A todos esses, que suas respectivas famílias digam-lhes essa mensagem: “FORÇA NA PERUCA, FAMÍLIA UNIDA COM O SENHOR!!! LEMBRE-SE: JÁ VENCEU!!! BJOS”