David Byrn & St. Vincent | Love This Giant

David Byrne & St. Vincent

Love this Giant

[4AD; 2012]

5.0

ENCONTRE: Site Oficial

por Rafael Abreu; 28/09/2012

Comecemos pelo mais velho: David Byrne não é mais o líder dos Talking Heads. Não é mais, junto a Brian Eno, um dos pontas de lança do rock, estranho, surreal, surpreendente e em certa medida abrasivo. É, antes, um veterano cuja produtividade relativamente notória – não necessariamente notável – além de um legado, tem se mantido no voraz e implacável radar da cultura pop. Comanda o Luaka Bop, selo responsável pelo renascer mundial de Tom Zé, escreve livros e lança discos solo e colaborativos.

St. Vincent, por sua vez, tem o viço de apenas três discos lançados, sendo o último o passo mais seguro e mais promissor que deu, até agora – dependendo do que vier depois, Annie Clark pode ter encontrado sua voz. Nasceu em 1982, três anos depois do lançamento de “Remain In Light”, um antes de “Speaking in Tongues”. Faz música análoga à de Byrne e tem uma relação igualmente bonita e complicada com a guitarra que toca, mas não se propõe a muitas africanidades. Tem antes a ver com o lado frio e meio humoroso dele. O tipo de coisa que originou pérolas como isto ou isto.

“Love This Giant” é um produto domesticado de ambos, o que é menos feio para Byrne do que é para Annie. Explica-se: ele, quarenta e poucos anos depois de ter deixado uma marca considerável no cenário mundial da música pop, a pressão é bem menor para um veterano. Afinal, um disco novo envolvendo Byrne tem mais a ver com uma dúvida positiva do que uma expectativa propriamente dita. Para Annie, no entanto, as coisas são mais complicadas, e esse tipo de lançamento pode vir como uma pequena provação. O que não diz nada sobre a qualidade do álbum, aliás.

O que diz sobre a qualidade do trabalho é o fato de que Byrne e Annie, juntos, parecem ter se contentado em explorar não tanto suas assinaturas quanto suas prescrições. “Love This Giant”, como se podia esperar, é um disco de familiaridades – o que não seria problema nenhum, se as coisas não parassem por aí. O que se tem, portanto, são letras corriqueiramente estranhas – “Se você for real, eu vou ser um holograma” – riffs de metais funkeados, batidas sintéticas pedestres e um contorcionismo melódico que dá sua graça de vez em quando.

Em meio à previsibilidade, o que faz a vergonha de algumas faixas é que há um intuito claro de anabolizá-las, de desfigurá-las em Canções Que Importam. De música, “Love this Giant” é bastante medíocre, o que seria triste, porém digno. O problema é que, na falta de boas composições, a produção se dá em piruetas, extravagâncias que ocasionalmente impressionantes, mas não necessariamente boas. É só pensar em “Ice Age”, Annie Clark à frente. No início, há pouca coisa excitante: o fio delgado e elegante da voz da moça, sopros estereotípicos e idílicos, nada mais. Quando entra a batida,  reticente e curiosa, o ouvido se eriça – e logo em seguida se recupera do pequeno susto, por haver pouco ali. A canção é a mesma, o interesse é outro.

Assim funciona o disco, na maioria das vezes. E o engraçado é que, acomodado e  esperto, ele normaliza a estranheza da dupla. Não fosse os nomes envolvidos, “Love this Giant” seria uma tentativa mal realizada de radiofonia esquerda. Vez em quando, inclusive, o que se ouve tem até a ver com Beyoncé (deixando claro, esse é um comentário pró-Knowles). Faltando o conteúdo de um “4”, no entanto, Byrne e Annie fizeram um disco de acrobata comum: interessante de se ouvir, fácil de se esquecer.