Ekundayo | Ekundayo

Ekundayo

Ekundayo

[Ropeadope; 2011]

7.5

ENCONTRE: Site Oficial

por César Márcio; 03/02/2012

Um pequeno engano na concepção impede “Ekundayo” de ser a obra definitiva que poderia ser: seus idealizadores acreditaram, realmente, que existe algo como “hip hop brasileiro”. Um coletivo com o gênio Naná Vasconcelos acompanhando outros craques como Maurício Takara, Rob Mazurek e Guilherme Granado (o São Paulo Underground), além do produtor e músico Scott Hard, não poderia fazer coisa diferente de boa música. E, como previsto, não faz. O mesmo não se pode afirmar de Rodrigo Brandão e Lurdez da Luz, MCs do Mamelo Sound System, que tomam lugar de destaque neste disco colaborativo e que, na maior parte do tempo, enevoam a força primordial do álbum: a incrível pressão dos grooves de um grupo de músicos em estado de graça.

O que incomoda mais no desnecessário rap de Brandão e Luz não é a incipiência do que é dito (é duro ouvir versos como “Collor, Collor/ o mais alto delinquente/ se recandidatou num passado recente”, mas nós não estamos aqui para analisar “letra de música”), e sim como é dito. Rimas quadradas, dispostas como se estivessem nos anos 80, inspiradas por Mike D, Ad-Rock e MCA, atrapalham a “visão” do instrumental, ao contrário, cheio de sinuosidades. A delicada “Just Love”, faixa que apresenta os MCs realmente cantando (mesmo que brevemente), mostra com clareza o melhor aproveitamento que bases pesadíssimas como as de “Macumbeiro Então” e “Algo Necessário” alcançariam com outras opções vocais.

Felizmente, em sua maior parte, “Ekundayo” dispensa os apetrechos e leciona sobre jazz-fusion (“Night of the Hunters” e “Claudio Café”, incríveis) e funk (a dupla “Family Thang” e “Freak Rocker”) com certo sotaque africano, adquirido com a percussão de Naná Vasconcelos (facilmente identificada na introdução e na caótica “The Message”). A fácil integração e coesão do projeto se explicam no histórico colaborativo dos integrantes que, entre outros projetos semelhantes, lançaram preciosidades recentemente como “Scotty Hard’s Radical Reconstructive Surgery” (com Scott Hard, é claro), “Três Cabeças Loucuras” (o melhor disco nacional do ano passado, com Mazurek, Granado e Takara) e “Fandango Jazz Festival” (com Naná Vasconcelos).

O álbum e projeto Ekundayo (palavra em yorubá que siginifica “a alegria que vem da tristeza”) surgiu de outro projeto chamado Colaboratório, uma série de shows que reuniu Mazurek, Takara, Granado e Mamelo, em 2008. Com a adição de Naná Vasconcelos, o bolo cresceu e eles sentiram a necessidade de deixar os encontros registrados em disco. Mesmo com toda essa intimidade com músicos de tantas alternativas, o rap de Rodrigo e Lurdez não perdeu a caretice. Esta característica prejudica levemente a primeira parte do álbum (“Macumbeiro Então” e “$elva do Dinheiro”, com rimas em primeiro plano, vem em sequência no ínicio do disco), mas não o impede de brilhar, como um todo. É que, como alguém já disse, um coletivo com Naná Vasconcelos, Maurício Takara, Guilherme Granado e Scott Hard não poderia dar errado. E não deu.