Erasmo Carlos: Sexo

Erasmo Carlos é símbolo da Jovem Guarda e conserva até hoje a alcunha de “Tremendão”. Títulos de um antigo provocador, que junto com Roberto Carlos mandou tudo pro inferno em um tempo de bom mocismo. A vontade do ex-jovem em continuar com a ‘fama de mau’ o levou a fazer dois discos próximos ao espírito da juventude. Rock and Roll de 2006 e o inesperado álbum conceitual Sexo lançado meses atrás. Sexo é uma imagem cômica de setentão proclamando “frontal, de pé, por trás ou de lado, a hidra às voltas com o dragão, tesoura, fechadura ou de quatro. Em que posição?” em Kamasutra, parceria com Arnaldo Antunes, faixa de abertura. Não há muito nexo no que se ouve, e é nesse inesperado que Erasmo ganha. Toca com uma banda de moleques (os Filhos da Judith) e vai fazer show no Circo Voador, praticamente um garoto.

Em “Sentimento Exposto”, Erasmo assume que tem nudez horrorosa (“monstro gosmento”) mas é bem sucedido nos seus fins (“você se encantou com tanta feiura, gostou do sentimento exposto da criatura”). Uma das canções com o maior número possível de trocadilhos sexuais, articula sobre a foda no mesmo rock’n’roll de seu álbum anterior. Mas parece que a vontade de rejuvenescer é maior do que a da música em si. Brincar e tentar construir uma imagem curiosa ficaram acima do ideal de pensar na música. Com exceção da primeira (“Kamasutra”) as demais canções passam despercebidas, sem nenhum atrativo maior que o inesperado de ver um velhinho falando sobre transar. Um disco que passa sem nenhuma letra fabulosa como “Meu Ego”, gravada com Nara Leão, ou simples e bela, do jeito que “Gente Aberta” marca Carlos, Erasmo.

Mais que uma caricatural imagem de um idoso ativo, Erasmo deveria se concentrar no elo que pode fortalecer com talentos emergentes da música brasileira. Kassin e Domenico foram apresentados por Adriana Calcanhotto e hoje são companheiros de gravadora Coqueiro Verde com o Tremendão, gravadora gerida por seu filho. Silvia Machete virou amiga após realizar uma série de shows tocando apenas músicas de Carlos, Erasmo. Conectar gerações separadas por décadas é bem mais frutífero do que se debruçar em um tema e entrar no estereótipo que ele carrega. É por aí que Erasmo talvez encontre sua pedra filosofal.