Father John Misty | Fear Fun

Father John Misty

Fear Fun

[Sub-Pop; 2012]

8.1

ENCONTRE: iTunes

por Túlio Brasil; 17/05/2012

Estreia não é um momento exclusivo. Veja Joshua Tillman: depois de sete álbuns solo lançados e uma passagem pelo Fleet Foxes, arrumou um jeito de estrear na música de novo aos 31 anos. O cantor de folk assumiu o alter-ego Father John Misty para fazer o LP “Fear Fun”, lançado pela Sub Pop no começo do mês. Experimentando e sem romper com o gênero folk, Tillman reivindica um reconhecimento que faltou na sua pouco conhecida discografia e como baterista do Fleet Foxes.

São doze canções curtas, a maior tem apenas cinco minutos. A instrumentação sublinha um “sentir bem” próprio de músicas alegres, em que a violão conjuga com um piano bem postado ou a entrada de uma vocalização num volume que não é baixo nem alto. “Nancy From Now On” leva isso ao máximo, regida por uma voz pausada, quase um bocejo estendido, a música é acompanhada por uma batida seca de percussão que se faz notar no refrão:  um aglomerado psicodélico, sem ser visceral,  de uma mensagem sem sentido compreendida pela emotividade.

Prestando atenção nas letras, descobre-se uma série inadvertida de expressões absurdas e geniais. Em “Nancy…” ele fala de sua mão direita “marcada no campo de concentração” onde seus órgãos pediam piedade. Curiosa já no título “Now I’m Learning to Love the War” traz uma angustia ambientalista, sobre a quantidade de óleo necessária para fazer um disco e de como a morte do homem é uma atitude ciumenta – pois, quando partem, deixam coisas que não vão decompor.

“I’m Writing A Novel” lembra o rock pré-60’s em suas guitarras. Tillman aproveita para cantar sem usar silêncios e aproveita para contar uma história. Estética vintage pura numa catarse que põe Heidegger e Sartre bebendo chá de papoula. Marcas de discurso que deixam claro como “Fear Fun” leva o nonsense a sério em todas as suas faces, pelo absurdo, dramático e lúdico. Dentro de country, rock, psicodelia e folk.

Um convite irrecusável para entrar no universo que não coube nem no nome próprio de Tillman. Não caberá em qualquer nome próprio. Crie seu alter-ego, jogue fora todas as certezas e tenha medo da diversão.